Com o novo “Jamboree Park At The Milky Way” previsto para chegar às lojas na próxima segunda-feira (20 de Abril), Alexandre Monteiro deixou-nos algumas palavras sobre o que lhe vai na alma. Amanhã sai a 2ª parte:

Aos 14 anos, quando pegaste numa guitarra pela primeira vez, como te imaginavas nos dias de hoje? Sonhavas ser uma estrela pop?
Imaginava-me a tomar conta do mundo. Porque de outra forma não valeria a pena. Fosse o mundo como eu o imaginava, e a coisa tinha-se concretizado tal como planeado.

Passados três anos sobre “Cruisin’ Alaska”, e partindo do princípio que já consegues fazer um balanço, tens ideia das principais razões que levaram a crítica em geral a acarinhar tanto o disco?
Gosto de pensar que a principal razão seja a música ser boa. O facto de eu não ter uma história acabou por ser a minha história, no sentido em que apareci com esse disco de rompante. O factor surpresa pode ter ajudado.

Decidiste gravar este novo disco no auditório da Academia de Música de Espinho. Que razões te levaram a fazer essa escolha, um tanto ou quanto incomum?
Eu queria que o disco soasse um disco vivo, a um evento, um disco que “aconteceu” mesmo. E estas canções precisavam de ar, de espaço. Eu gosto de correr riscos quando estou em gravações, e desta vez o desafio foi gravar tudo em 5 dias nesse mesmo espaço, não haveria tempo para aperfeiçoamentos. Dessa forma tudo soaria mais espontâneo e toda a gente tinha obrigatoriamente que dar o seu máximo. Não houve tempo para pensar quase.

Ao contrário do primeiro, mais individual, este é um disco mais participado. Essa era um ideia inicial ou são participações surgidas com o desenrolar das gravações? Que importância tiveram essas participações no resultado final?
Desde quando estava sozinho no meu quarto a compor as canções deste disco tive sempre a ideia de que me teria que rodear de gente. O primeiro disco já estava feito, foi bom, mas não quis voltar a fazer tudo da mesma maneira, e quis deixar de lado as electrónicas e fazer um disco algo mais clássico. Outro lado curioso que teve este processo foi o de introduzir coisas que à partida não estavam previstas. Por exemplo, alguém me veio perguntar se eu ia precisar de um coro de miúdos, e eu pensei: “espera, lá, há aqui uma música que tem uns la-la-la’s, é capaz de ficar fixe!” e assim nasceram os coros infantis em “Candy Clem”.

“Cruisin’ Alaska” era um álbum aninhado sobre si mesmo, virado para dentro; “Jamboree Park At The Milky Way”, pelo contrário, parece ter ganho asas, saído do quarto. O que te levou a essa mudança?
Em primeiro lugar, muita coisa mudou nestes três últimos anos. Olhando para trás, eu noto que era uma pessoa diferente quando fiz esse primeiro disco. Era muito mais fechado e centrado no meu próprio ego. Quase não falava com ninguém. Talvez tenha sido uma mudança de extremos: do eremita solitário para o explorador que quer abraçar o universo inteiro…

Há no novo disco um ideia muito própria associada ao espaço, ao cosmos – ainda que sempre ligada à terra. Como surgiu esta ideia? O que pretendes transmitir?
O ponto de partida das minhas canções é de certa forma ligado à terra, no sentido em que a base das canções nasce com um certo grau de pureza e depois tentei partir em várias direcções. A ideia deste disco é ser uma espécie de cançoneteiro para ser entoado em qualquer acampamento cm vistas privilegiadas para o espaço sideral.

Depois de se ouvir falar tanto em Beatles e Beach Boys, como influências do anterior “Cruisin’ Alaska”, o novo disco parece nesse sentido ser um disco muito mais livre, menos catalogável; ainda assim, e partindo do princípio que há sempre algo que nos influencia, o que te influenciou agora?
Sim, isso terá a haver com o facto de já não precisar tanto de ouvir a música de outros para fazer a minha. No entanto, se eu pensar na minha música como descendência directa de alguma coisa, continuo a preferir que essas duas referencias sejam as mencionadas.

[CONTINUA]

som The Weatherman.

foto de The Weatherman
tipo Pop

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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