E eis que em 2004, Rodrigo Amado volta a juntar os Lisbon Improvisation Players, agora com Steve Adams, Ken Filiano e Acácio Salero. Foram assim os dias de “Motion”.

motion

Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed, 2004)

Gravado em Agosto de 2002 nos estúdios Musicorde, em Campo de Ourique, este álbum marcou uma época em que eu estava, literalmente, “nas nuvens”. Antes de mais pela oportunidade de tocar e gravar com o Steve Adams, saxofonista dos Rova Saxophone Quartet, um dos grupos que mais me influenciou e uma das formações de sopros mais importantes do mundo – juntamente com os World Saxophone Quartet. O que mais me marcou neste encontro, para além do absoluto deslumbramento de estar em palco e em estúdio com um saxofonista deste calibre técnico e criativo, foi aperceber-me de capacidades minhas, sobretudo a nível técnico, que eu nem sonhava que tinha. O encontro e a convivência musical com o Steve fez-me crescer e ir buscar, de forma intuitiva, recursos técnicos relacionados com coisas que já tinha óbviamente trabalhado mas que nunca tinha utilizado. Desde aí, fiquei sempre com a certeza de que a melhor forma de evoluirmos é tocar com músicos melhores do que nós. Outra das razões para eu estar mesmo feliz nesta altura foi o facto de que o Steve estava em Portugal para tocar com os Lisbon Improvisation Players no Jazz em Agosto da Gulbenkian. A formação era a mesma que foi para estúdio – eu em saxofones tenor e barítono, o Steve Adams em saxofones tenor e sopranino, o Ken Filiano no contrabaixo e o Acácio Salero na bateria. Foi também neste período que comecei a desenvolver mais intensamente um interesse por fotografia. Na editora (Clean Feed) era eu quem coordenava toda a parte gráfica e de design com o Rui Garrido. Algumas das capas eram desenvolvidas a partir de ideias dele, outras de ideias minhas. Para esta capa fui buscar uma foto do Daniel Blaufuks que me fascinava – a imagem das pessoas a andar entre os raios de luz que criava uma ligação directa com o nome do álbum. Sempre fui absolutamente obcecado com a parte gráfica e conceptual dos meus discos, talvez por se tratar de música improvisada e assim ser possível reforçar a coerência e unidade de cada projecto. Depois de ultrapassada a fase de audição e selecção das gravações – em dezenas, se não centenas de sessões – e a fase de mistura e masterização, dou início a uma fase final em que, de acordo com o espírito e energia da música, crio um conceito que envolve o nome do disco, os nomes dos temas e o design gráfico do álbum. Foi com este disco que eu senti pela primeira vez que tudo estava no “lugar” certo, e a foto do Daniel foi muito importante. Durante este período (2003 / 2004) fiz fotografias para capas do Paul Dunmall (Bridging), Carlos Barretto (Lokomotiv), Ethan Winogrand (Made in Brooklyn), João Paulo Esteves da Silva (As Sete Ilhas de Lisboa), Julius Hemphill Sextet (Hard Blues), Bernardo Sassetti (Indigo), Dennis Gonzalez (New York Midnight Suite), e os TGB do Mário Delgado, Sérgio Carolino e Alexandre Frazão (Tuba, Guitarra e Bateria). Foi um período mágico em que aconteceu outros dos encontros que mais me fizeram crescer como músico – um concerto histórico no Teatro Ibérico, em 2003, com o Bobby Bradford (trompetista que gravou com Ornette Coleman os álbuns Science Fiction e Broken Shadows), Joe Giardullo (sax), Ken Filiano (contrabaixo) e Alex Cline (bateria). Esta era uma verdadeira dream band e o encontro só foi possível pelo facto de que o Bobby e o Alex integravam o quarteto Bobby Bradford / Vinny Golia que actuava esse ano na primeira (e histórica) edição do Festival Jazz ao Centro, em Coimbra, e ainda numa série de datas no Hot Clube, em Lisboa. Sendo o Ornette talvez a minha principal influência de sempre como saxofonista, este encontro com o Bobby Bradford foi para mim uma coisa do outro mundo. E o concerto no Teatro Ibérico foi incrível!

Rodrigo Amado

Artigos anteriores:

2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.