Grandes dias os que se seguem…
Esta vai ser uma semana totalmente dedicada a “Maldoror”, última grande criação dos Mão Morta. Durante os próximos dias, Adolfo Luxúria Canibal vai responder por aqui a algumas perguntas colocadas pelo dono desta tasca e por alguns dos amigos desta. A próxima apresentação de “Maldoror” está prevista para o dia 23 de Abril, na Culturgest (Lisboa), mas para já, ficam as palavras pela voz dos Mão Morta.

foto de maldoror - rui pires
> Foto: Rui Pires

1. Como e quando nasceu esta ideia de musicar/teatralizar uma obra maldita como “Os Cantos de Maldoror”?
Adolfo Luxúria Canibal: Há já muito tempo que o Miguel Pedro acenava com a sua vontade em fazermos qualquer coisa à volta de Os Cantos de Maldoror, mais concretamente desde que encenamos o Müller no Hotel Hessischer Hof em 1997. Chegamos mesmo a apresentar uma proposta de espectáculo, baseado na estrofe do Oceano do Canto Primeiro, para a Expo 98, em Lisboa, que não foi aceite. Mas o Miguel mantinha a sua insistência para um trabalho mais global, abarcando todo o livro, contra a minha resistência que, conhecendo bem a obra, achava o projecto impraticável. Mas tanto insistiu que, a seguir à edição de Nus, acabamos todos por concordar em mergulhar de cabeça nessa loucura. E então, com o convite do Theatro Circo para encabeçarmos a sua produção de espectáculos, inicialmente para a reabertura da sala, em 2006, a viabilidade do projecto deixou de ser mera miragem para passar a ser uma obrigação concreta e aí atolamo-nos no espectáculo, obsessivamente, primeiro para encontrar o mecanismo que permitisse passar do nível literário do livro para a linguagem musical e cénica, depois na sua construção, até finalmente, ano e meio depois de lhe pegarmos e seis meses após a data inicialmente prevista, estrear em Maio de 2007.

ilustração Maldoror - Isabel Llano
> Ilustração: Isabel Llano

2. Foi um trabalho doloroso, viver com este “herói do mal”? Que principais dificuldades enfrentaram na transposição do livro para o palco de “Os Cantos de Maldoror”?
Adolfo Luxúria Canibal: Toda a criação, ao obrigar a uma ruptura com o existente, é dolorosa, independentemente de implicar ou não um convívio com um herói do mal!… Neste caso, a grande dificuldade com que deparamos foi a da transposição da complexidade e da riqueza e variedade das questões existentes no livro, e que nele são colocadas a um nível estritamente literário, para uma outra linguagem e para um outro espaço. Essa dificuldade foi resolvida com o recurso a um local fechado, o palco quarto de brinquedos, onde a partir daí toda a incoerência narrativa ganha um discurso firme alicerçado no poder do faz-de-conta imaginativo infantil assim, a narração pode estilhaçar-se em todas as direcções sem dispersão, as formas discursivas podem suceder-se sem confusão, as vozes de diferentes personagens podem concentrar-se numa só boca. Descobrir esse mecanismo, aparentemente tão simples, demorou cerca de um ano o resto foi a construção normal e sem grande história de um espectáculo…

Tour ‘Maldoror’:
– 23 Abr (20h) – Culturgest – Lisboa
– 03 Mai (20h) – Theatro Circo – Braga

som Mão Morta.

Alternativo
sítio mao-morta.org
sítio www.cobradiscos.org

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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