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Os Terrakota estão de volta aos discos…ei-lo, faixa a faixa!

GIRA GIRO

Num tema suave guiado por um balanço rítmico subtil que tanto pode ser batuque caboverdiano, como um adufe das beiras, a banda experimenta uma abordagem mais acústica e a tela é pintada ao som da kora, guitarras, flauta e percussão. A letra é uma espécie de viagem mental analítica em torno da nossa essência como humanos integrados na “aldeia global”.

“Quanto mundo somos?”… quando nos deixamos levar por motivações de domínio e conquista que nos viram uns contra os outros.

“Quanto mundo seremos?”…se formos guiados pelos preconceitos e limitações que são muitas vezes disparados pela nossa mente e nos tiram uma visão abrangente do que somos na realidade: uma das espécies habitante de um planeta único, onde predomina a abundância e a harmonia e onde não existem fronteiras nem nada para conquistar … Um Planeta perfeito para simplesmente se viver!

É só encontrar a vibração natural que pulsa dentro de nós e o Gira Giro se desvenda.

JAH FLOW

As afinidades directas entre o merengue, a Rumba, a Salsa ou a Champeta colombiana das Américas caribenhas e o Soukouss do Zaire são evidentes. Estão intimamente ligadas ao enorme fluxo de escravos colombianos para as Américas, mas também resultam da chegada de músicos cubanos ao Zaire/Congo aquando dos processos de independência dos países africanos, já durante o século XX.

Numa das suas intermináveis jams de guitarinhas africanas, Alex e Gonçalo sacaram estas melodias a cavalo entre os dois continentes. A canção que se desenvolveu a partir daí, conta a história de um vendedor da Monsanto que chega a um pequeno país das Caraíbas com as suas promessas de comida para todos e riqueza fácil, mas é confrontado com o desinteresse do agricultor local. O trocadilho desenvolve-se em torno da figura simbólica Coco Cola Nut Tree, que representa a “árvore envenenada” que as multinacionais teimam em “plantar” a todo o custo.

Na verdade, este tema inicialmente era a continuação da história contada no “Entre o céu e a Terra”, que fala da aberração do patenteamento de sementes e uso de transgénicos na agricultura.

ENTRE O CÉU E A TERRA

É um retrato do paradoxo em que vivemos. Temos por um lado toda a abundância da Natureza que está no início da música, mas há também o peso das grandes corporações que, na corrida louca pelo controlo do mercado (e daquilo que não deveria ser mercado, mas também é mercantilizado), destroem tudo. Estamos juntos com a Coruja e com o Falcão a cantar forte para defendermos esta Terra da qual fazemos parte. É portanto, assumidamente, o assumir do lado em que estamos. O refrão, apesar das suas influências do Nordeste do Brasil, nasceu num quarto na Gâmbia. Chegando a Lisboa, a música ganhou todas as influências que nela se ouvem agora, com o toque indiano do sitar e o groove mange beat. Engraçado que no baixão do meio, a seguir ao Índio falar, há uma frase que diz “Agora eu digo à Monsanto, à Bayer e outro tanto que é contra você que eu canto, nossa Mãe não vai matar!”, e agora descobrimos que as duas se fundiram para fazer a maior corporação de agro-químicos do mundo.

MEXE MEXE

Existem músicas que são puras manifestações de alegria e prazer, momentos de simples libertação energética interior sobre as quais não há muito a dizer, e esta é uma delas. É o clássico som de final de concerto com energia sempre em alta e a apelar à dança desenfreada, papel que o tema desempenha na perfeição.

Chegando-se à gravação de um novo disco muitas vezes não se sabe exactamente o que fazer com temas assim.
Por isso, este tema foi testado com várias caras, teve dois refrões diferentes e esteve quase para nem chegar a entrar no line-up final.

No álbum, Terrakota decidiu experimentá-lo em parceria com outro grande companheiro de estrada, o engenheiro de som e master do groove Beat Laden para fundir o beat Afro-escaldante original com uns pós de electrónica e special effects, sem nunca perder o seu lado orgânico.

A letra é uma caricatura bem disposta de certos aspectos da sociedade portuguesa, apelando a uma reacção construtivan e confiante de um povo cheio de potencial e criatividade inata.

SOCIAL INSECURITY

Ninguém imaginaria que este poderoso tema Afro-Rock nasceu a partir de uma guitarrinha do deserto criada numa noite de inverno, no alto de uma falésia na costa atllântica marroquina. Mais tarde, na sala de ensaios mas também em gravações caseiras, foi evoluindo para uma especie de Afro-Beat-Rock.
Com uma consistente linha de guitarras e coros vocais, executado com um feeling muito próximo dos 70’s.

Social Insecurity foi composto no período em que a Troika entrou em Portugal para resolver uma suposta crise económica e aplicar um regime de austeridade desmedido e desumano. A letra é o reflexo directo da situação criada, denunciando a forma descarada como a Banca e as multinacionais brincam com as crises para simplesmente obterem lucro e alimentar a economia que caminha para o abismo porque há muito se afastou da Terra e do que ela tem para dar, sem ter de lucrar.

OXALÁ

Há melodias que aparecem de uma forma tão simples e directa que parece que não vêem de nós próprios mas sim que nos são sussurradas ao ouvido. O refrão nasceu de uma forma bem literal: antes do Sol nascer, no frio e na cor esverdeada do amanhecer, a regar a horta, e a pedir que ele venha para aquecer e trazer a luz. Haviam várias sociedades tribais que tinham um homem cujo trabalho, de grande importância, era simplesmente olhar o céu, as estrelas e os planetas e estudá-los. Agradecia sempre ao Sol pelo dia passado e rezava sempre para que ele voltasse a nascer. No fundo, é a consciência que nada nesta vida é garantido. O reconhecer da incerteza do futuro enraíza-nos no momento presente e faz-nos apreciá-lo em todo o seu esplendor.

Já há muito tempo que queríamos incluir o cante alentejano numa música Terrakota, mas nunca tivemos a música certa. Ao ir beber um pouco ao Sahara, ao nordeste Brasileiro e a Cuba, curiosamente nasceu uma sonoridade muito nova mas também muito Portuguesa, e por isso decidimos convidar o Vitorino, que aceitou logo e fundiu-se perfeitamente com a música.

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BANKSTER

O Bankster representa o clássico investidor externo que se dedica a construir fortunas à custa de negócios e explorações abusivas dos recursos naturais e humanos nos países do terceiro mundo.

Estes são literalmente esventrados, muitas vezes passam por guerras civis e genocídios com altos patrocínios, só para o bankster poder extrair ao máximo, o mais rápido e barato possível.

A letra presta homenagem a uma série de grandes homens que dedicaram a sua vida a lutar contra este flagelo, conta a história eternamente repetida, recorre a provérbios africanos e termina em modo festivo, em tom de aviso ao Bankster que comeu demasiado e que a sua barriga vai explodir.

Musicalmente, é um tema completamente Afro, que alterna um contagiante groove AfroBeat com um refrão Soukouss Styley, de sorriso bem rasgado.

DESERTO AMANHÃ

Toda a floresta portuguesa substituida por Eucaliptais e montes calvos! Centrais Nucleares obsoletas e velhas à beira-mar ou no leito de grandes rios!

Queimadas de combustivel a céu aberto por todo o lado em acto contínuo, 365 dias por ano!
Centenas de hectares da Amazónia devastados todos os dias, sem parar! Etc. etc. etc. E amanhã? Como é que vai ser? Vamos comer o qué? Respirar o quê?

O deserto de consciência leva perigosamente a uma queda vertiginosa, a um escuro deserto de areia tóxica, ventos escaldantes, ar irrespirável e desprovido de qualquer tipo de vida.

O primeiro mote para a letra foi o título, que veio de um sentimento bem pesado ao reflectir sobre o desastre nuclear de Fukushima.

A paisagem musical sobre a qual se desenrola esta mensagem crua e dura nasceu de umas guitarradas do deserto sahara e é uma reinterpretação eléctrica, com um feeling muito rock, dos ritmos da Mauritânia e do Sahel, com algum reggae flavour e um final em Gnawa marroquino.

HEARTIST

O próprio título desta canção já é em si uma explicação do que se fala e sente neste tema. O artista reside dentro de cada um de nós quando somos alvo de um impulso criativo que é etéreo mas sente-se e reflecte-se nos actos e resultados por ele libertados. A arte é livre como a Terra e o Universo. É livre de qualquer condicionamento mental e continua a ser uma das, senão a melhor, forma de comunicação do ser humano…Uma janela da alma que continua e continuará a ser aberta enquanto a arte vier do coração.

WARI

É uma música que nasce a partir de um único riff, poderoso, envolvente e cheio de groove.

Neste caso, trata-se de um riff de alaúde do Marc , que inspirou o Júnior a construir um groove Funk Rock, sobre o qual desenrolou uma cançaõ simples criada a partir de uma letra que nos foi oferecida pelo Luaty Ikonoklasta.
Convidámos para este tema um companheiro de estrada, o cantor francês Florian Doucet que fazia parte da formação ao vivo de Terrakota no ano de 2012.

O Wari representa esta era de coerção digital e profundo esvaziamento de ideias que vivemos hoje em dia, esta louca sede de protagonismo, poder e lucro e consequente e exponencial perda de valores humanos essenciais.

CEGUEIRA

A utopia, o sonho inalcançável é muitas vezes visto como o resultado de um irrealismo ou cegueira. Somos sonhadores quase por instinto e quando esse impulso nos é negado ou mesmo contrariado, a nossa auto-estima e amor-próprio dissipam-se, dando lugar a um ser pessimista. Ao sonharmos, ascendemos e vivemos o que ainda está para ser vivido. Esta música é um apelo ao enaltecimento daqueles que sonham sem temer qualquer tipo de julgamento e seguem avante com os sonhos que projectarão uma nova realidade.

KUTCH NAHI

Este tema é um bom exemplo da abertura estética dos Terrakota que permite casar vários timbre e ideias, à partida inconciliáveis numa só ideia, para depois lhe dar várias formas. Na verdade, o instrumental nasceu de uma jam Afro com Kora, guitarra e Djembé, para depois, na sala de ensaios, sofrer várias metamorfoses com a introdução de ventos da Índia e especiarias da Jamaica, através do uso de Sitar, Tablas e canto indiano, e da introdução de uma parte final em Dub Reggae.

Ao vivo, este som é o momento “esotérico” do espectáculo, no qual a banda mergulha num transe afro-hindi, gerando o mood propício à espectacular performance de dança Odissi que acontece em simultáâneo.

No álbum, a banda decidiu abordá-la partindo de ângulo totalmente diferente. A música foi gravada tal como é tocada ao vivo, mas foi enriquecida por múltiplos overdubs e pelas participações do cantor indiano Mahesh Vinayakram e do tablista indiano Niraj Singh, para no fim as centenas de pistas serem desconstruídas numa espécie de Oriental Dub. O resultado final é uma viagem alucinante com timbres, cores e temperos vários. Um longo voo de cegonha liderado pela magnífica voz de Mahesh.

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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.