É o álbum de estreia d’Os Quais e chegou às lojas na passada sexta-feira, dia 1 de Junho. O disco chama-se “Pop é o Contrário de Pop” e foi gravado em  Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro, Nantes e Zurique.

Formados pela dupla Jacinto Lucas Pires e Tomás Cunha Ferreira, os Quais contaram neste disco com a participação especial de alguns amigos brasileiros, tais como Domenico Lancellotti, Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes, Bruno Medina, Péricles Cavalcanti e Alberto Continentino.

(…) Agora ouço o disco completo e fico mais contente de saber que, além de levar adiante as “explorações de estilo” do primeiro disco, as participações nas gravações se estenderam ainda mais, incluindo alguns daqueles nossos amigos, como por exemplo Pedro Sá, baixo e guitarra, em ‘É adeus”, canção que, “misturando” jeitos luso-brasileiros, diz, candidamente, “Tchau, adeus”. Ou Domenico Lancellotti, na bateria, nesta ‘Bandeira”, com melodia tão bonita, curta e límpida, cuja letra faz uma referência (ou reverência!) sutil ao grande James Brown e que conta, também, com a participação, entre outros, de Bruno Medina (de “Los Hermanos”, outra das referências musicais contemporâneas de ‘Os Quais”) tocando um banjo indiano (…)
Quando ouço a musica de “Os Quais”, inevitavelmente, penso nas relações culturais luso-brasileiras, hoje, e é como se Tomás e Jacinto, incorporando elementos de nossa canção moderna (pós-bossanova) que tanto lhes interessam, nos devolvessem, nas deles, de uma forma original, a possibilidade de compreendermos um pouco de nossa própria identidade poético-musical, que para nós, dentro deste “caldeirão”, parece bem menos clara. Não foi à toa que Portugal nos legou nossa língua!
Ouça-se, assim, esta emblemática, “Monossilábica”, em que não há outras participações que não a de Jacinto no vocal e de Tomás, no violão e na guitarra. Esta canção, uma das minhas preferidas no disco, num certo sentido filha direta de uma tradição experimental, traz na letra um exercício lingüístico que, implícitamente, faz uma reflexão sobre o uso pouco usual dos monossílabos em letras de canções em português (língua com um vocabulário composto por palavras e expressões mais extensas), característica essa tão comum em canções na língua inglesa, “naturalmente” mais sintética (o que, presumivelmente, a tornaria mais flexível para as divisões rítmicas!). E tudo isso “acompanhado” por um violão swingado, de inspiração tão brasileira e moderna.
Outra de minhas faixas preferidas, neste disco todo interessante, é esta “Corpo” que eu já conhecia desde uma gravação-demo anterior (que Tomás me enviou) e que sempre me chamou atenção pela delicada e cinematográfica descrição que sua letra faz de um belo corpo feminino, como num plano seqüência de um dos filmes iniciais da Nouvelle Vague: “mais livre teatro das formas exatas”. Lindo! E que ótimo baixo acústico, sinuoso e envolvente, toca o Alberto Continentino, nesta gravação!
“E como poderemos, então, não ver, aí, a beleza!”. Ouça-se, assim, esta outra faixa, “Duas imagens”, uma composição mais “universalmente” pop e que com sua estranheza, na entonação da melodia quase-falada e na letra, por si só, justifica e explica o titulo deste álbum.
É, este pop é mesmo diferente de pop. E não podia ser de outro modo. Viva!” (Péricles Cavalcanti | Ler Tudo)

Três anos depois de “Meio Disco” (Amor Fúria, 2009), Os Quais oferecem-nos finalmente um disco completo. É uma coisa com corpo, como se pode ouvir no bandcamp da dupla.

De seguida, o video para “Meu Caro Amigo Chico”:

Os Quais – “Pop é o contrário de Pop” (Ed. Autor, Mbari, 2012) | POP | Ouvir “Pop é o Contrário de Pop”
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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.