Carla Pires tem novo disco; chama-se “Aqui”:

“”AQUI” é este lugar e é este tempo. É Lisboa, Portugal e o mundo vistos pelos olhos — e os sentidos — de uma fadista que canta o que é de hoje mas o que também é de ontem e de amanhã, o que é local e universal, o que nos une e nos separa, o que se deixou de celebrar mas que é cada vez mais necessário celebrar, lembrar e pensar. “AQUI”, o novo disco da fadista Carla Pires, é um álbum de fado pleno e inteiro, sim, mas também um trabalho em que o fado se abre definitivamente a outros universos musicais que lhe são esteticamente próximos e a ideais que lhe são caros.

Em “AQUI”, Carla Pires recupera um fado clássico de Alfredo Marceneiro mas, acima de tudo, apresenta fados novos que sentiu ser urgente dar a conhecer, temas em que o fado se une naturalmente a outros géneros como o tango ou o samba e canções exteriores ao fado mas que com ele se casam, naturalmente, na voz de Carla Pires e nos instrumentos dos seus músicos. Para começar, “Utopia”, de José Afonso, em que se celebra a igualdade, a solidariedade, a aceitação dos outros, do diferente, e a necessidade de se construírem pontes e não muros. Numa altura em que o mundo se debate com gravíssimas crises políticas e sociais – geradoras de intolerância e desprezo pela vida humana – é importante ouvir as palavras imortais de José Afonso: “Cidade sem muros nem ameias / Gente igual por dentro / Gente igual por fora…”. Mas também a celebração da liberdade e da alegria que é “O Povo Canta na Rua” (marcha popular com música de Eduardo Paes Mamede para o histórico GAC – Vozes na Luta) ou a sublime visão do amor, amargo e doce, de “Cavalo à Solta” (Fernando Tordo e Ary dos Santos).

E o fado? Está aqui, sempre. Nesta sua releitura das canções já referidas. E nos fados que são fado mesmo. Fados que cantam a cidade de Lisboa, feminina, livre, diversa e onde tantas músicas se encontram com o fado: “Se Lisboa Sonhasse” (de José Manuel Coelho, que para Carla já tinha escrito “Canção do Vento e da Terra”), “Há Samba nas Colinas de Lisboa” (onde o poema de Paulo Abreu Lima encontra a música do luso-moçambicano Mingo Rangel), “Tango Quase Fado” (com poema de Rosa Lobato de Faria e música do guitarrista e compositor Mário Pacheco) e “Cidade Bela do Fado” (do enorme poeta David Mourão-Ferreira com, de novo, música de Mário Pacheco). Fados que cantam o amor, a paixão e a saudade: “Nos Rios Dessa Boca” (de Paulo Abreu Lima para música de António Zambujo), “Noites Perdidas” (com poema da própria Carla Pires em parceria com Carlos Leitão e música de Pedro Pinhal), “Voltar a Ser Criança” (com poema de Tiago Torres da Silva e música de outro grande cantautor português, Samuel Quedas). E um fado que nos relembra o passado do fado mas que também lança pontes com o presente: “Aqui”, com música do lendário Alfredo Marceneiro (Fado Versículo) e letra de Carla Pires. Um poema, pessoalíssimo, em que neste “aqui” se juntam Lisboa, o amor e tudo o mais que ficou aqui atrás.

Com produção e direcção musical de Marino de Freitas, Carla Pires teve consigo em estúdio os músicos Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), Pedro Pinhal (guitarra clássica) e André Moreira (baixo), para além dos convidados Edu Miranda (violão de 7 cordas, cavaquinho e bandolim em “Há samba nas colinas de Lisboa”), Filipe Raposo (piano em “Voltar a Ser Criança”), Marcelo Mercadante (bandoneon em “Tango Quase Fado”) e de três ex-integrantes do GAC – Vozes na Luta — Rui Vaz e Pedro Casaes, dos Gaiteiros de Lisboa, e Margarida Antunes da Silva, do Cramol – nos coros de “O Povo Canta na Rua”. “Aqui” tem edição da Ocarina Music e lançamento oficial marcado para dia 8 de Abril.” (António Pires/Nota de Imprensa)

“Nos rios dessa boca” é o primeiro single.

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.