OLHARES|”Marches of the New World” – David Maranha

O que fica, logo após uma primeira audição de “Marches of the New World”, é a sua grandiosidade – é algo de arrepiante. Incrível.
Figura maior do experimentalismo nacional, com actividade iniciada nos já longínquos anos 80, com o colectivo Osso Exótico, David Maranha tem-se desdobrado em múltiplos projectos, todos eles, exploradores dessa ideia de infinitude do som. Nos últimos tempos, salienta-se a sua participação nos Curia, com Manuel Mota, Margarida Garcia e Afonso Simões e nos Organ Eye, com Patrícia Machás, Jasmine Guffond e Torben Till; a última aventura foi com o percussionista norte-americano Z’EV e terminou num disco pela Crouton.
Explorando há muito todo o universo sonoro drone, David Maranha tem neste “Marches of the New World” uma caminhada fulgurante, uma viagem em extensão, assente na trabalhada repetição sónica que a concretiza. Dividida em cinco partes, de uma consistência espantosa, o inevitável movimento do som que nos é oferecido – hipnótico, circular, leva-nos para uma realidade quase infinita; em crescendo. Pesado e enigmático, “Marches of the New World” é um espécie de cilindro incontrolável, imparável, fundado num movimento que inevitavelmente nos abalroa. É esta ideia de movimento que trespassa por todo o disco, um discorrer quase sempre minimal de texturas drone – reinventadas texturas, de uma sonoridade eléctrica que nos absorve no seu eterno ritual, na sua eterna caminhada. Criativo, David Maranha explora em “Marches of the New World” os novos caminhos do drone. Superior.
O final, com os 22 minutos de “Infinite March”, é absolutamente arrasador, mostrando como David Maranha anda perto da conquistar este novo mundo.
A marcha já começou…

David Maranha.