Levada ao limite, como o fizeram especialmente Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral. Ao limite da existência, como solista. No fundo, é apenas isso que interessa. A guitarra.
Seis anos passados sobre o enorme “Voluptuária” (Vachier & Associados), Ricardo Rocha voltou aos discos e ofereceu-nos mais uma obra iluminada – em pousio desde 2006. Com “Luminismo” ficámos também a saber que o guitarrista vive afinal apaixonado por outras cordas, as percutidas pelo piano. É pública a sua estranha relação com o instrumento que tão brilhantemente domina, no entanto, com “Luminismo”, ficámos a saber que o homem olha a sua arte de uma outra perspectiva; felizmente, com igual capacidade.
“Luminismo” é um duplo CD; é composto por um primeiro disco com composições para guitarra portuguesa de Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral, Artur Paredes e do próprio Ricardo Rocha; e um segundo, gravado no espaço sintrense Olga Cadaval, com peças para piano da autoria de Ricardo Rocha, interpretadas pela pianista austríaca Ingeborg Baldaszti. A mesma paixão.
O primeiro disco é como que uma continuação do trabalho de libertação da guitarra portuguesa das grilhetas do fado.  É um trabalho difícil mas importante; outros o começaram e Ricardo Rocha tudo tem feito  para o continuar. E com muito sucesso. “Luminismo” é brilhante; é intenso; é único e está impregnado da personalidade do seu autor. Notável, para quem parece viver uma eterna relação de frustração para com o instrumento que o mantém à tona; chega a parecer irreal. Mas não é e o segundo disco explica-o.
No segundo disco, dividido em duas partes – inspiradas no compositor russo Alexander Skjrabin e em peças serialistas, é a pianista Ingeborg Baldaszti a responsável por dar brilho às composições de Ricardo Rocha; por mostrar como muitas vezes bate o coração do compositor. Cruzado ou não com a forma como compõe para guitarra, o piano é apenas o prolongamento da existência solista que caracteriza verdadeiramente o espírito de Ricardo Rocha. O assombro é o mesmo; a cada passo; a cada diálogo; a cada respiração da pianista; a cada explosão.
Poderoso.

capa de Luminismo
“Luminismo” – Ricardo Rocha (Mbari, 2009)

CD1
01 Ténue-O-Sensorialismo
02 Abismo Satânico
03 Lúciferianismo
04 Relativismo Temporal
05 Estudo Convulsianalítico
06 Canto Do Trabalho
07 Porto Santo
08 Passatempo
09 Dança Das Sombras
10 Labirinto Das Fragas
11 Baile Dos Caretos
12 Luminismo Esplandecente

CD1
Primeira Parte: Alienação Skrjabin
01 Misticismo, Invocaçao Sensual
02 Ténue E Frágil
03 Suave E Doce Almíscar
04 Côr De Candura

Segunda Parte: O Serialismo
05 Obsessiva Sobreposiçao Compulsiva Da Quarta Aumentada
06 Desfragmentaçao Silenciosa
07 Final Do Infinito Eterno
08 Número Sete

género: guitarra
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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.