Às vezes vale a pena o sofrimento provocado pela demora – como que exponencia o desejo, apura os sentidos. “Todos os Dias Fossem Estes/Outros” demorou, demorou mas chegou…todos os dias fossem estes ou fossem outros – fossem eles quais fossem – marca o tempo no álbum de estreia do antigo baixista dos Ornatos Violeta, Nuno Prata – marca o andamento, marca a vida assim como ela é.
Mas assustei-me – confesso; ao olhar para o alinhamento de 19 canções estampado no curioso cartonado que aconchega a rodela sonora, assustei-me – confesso. Seria possível suportar de seguida – como ou sem intervalos, tanto faz – as 19 histórias que o músico preparara para nos contar? Foi. É – sem dúvida. “Todos os Dias Fossem Estes/Outros” é do início ao fim uma experiência feita de (com)grande prazer. Quase imaculada.
Contadas com as mesmas palavras que um dia Camões contou – assim reza a lenda, num escorreito e bom português às vezes embaladas pelos ritmos quentes de paixões brasileiras, o que ouvimos são belas canções, pelos dedos e voz bem modeladas; são histórias que se contam, dos dias, das noites, dos altos e baixos da vida das pessoas – assim. Na crueza aberta das palavras, na simplicidade dos sons, sobressai sobre uma camada de instrumentais simples e de luminosa acústica, uma plasticidade interpretativa verdadeiramente aguçada…que nos aguça o apetite, faixa após faixa. Subjectivamente influenciado por este e ou aquele, objectivamente, Nuno Prata defende-se em rigor com a forma bem pessoal de dizer o que diz, como diz, o que sente, no que canta…numa forma tão pessoal.
“Todos os Dias Fossem Estes/Outros” é desde logo, desde já, um dos discos mais estimulantes e criativos do ano. Como ele, o folk rock nacional ganhou decididamente um novo ponta-de-lança – e daqueles de fino recorte técnico.
Obrigatório.

som Ouvir alguns sons de “Todos os Dias Fossem Estes/Outros” no MySpace.

vídeo Apresentação de “Nuno Prata na Fnac Santa Catarina” em 18 de Setembro (9 vídeos).

capa de Todos os Dias Fossem Estes/Outros
“Todos os Dias Fossem Estes/Outros” – Nuno Prata (Turbina, 2006)

01 não, eu não sou um fantasma
02 figuras tristes
03 hoje quem?
04 nada é tão mau
05 alegremente cantando e rindo vamos
06 pobre de mim (assim também eu)
07 guarda bem o teu tesouro
08 esse não
09 já é sábado
10 já não me importo
11 nós não
12 já não dói
13 não deixes de querer fugir
14 vamos andando (só temo pelos outros)
15 volto para casa a pensar na mesma coisa
16 porque sim
17 e porque não ficar por aqui?
18 alice ri-se
19 o homem invisível ainda acha possível

tipo Folk Rock
sítio www.nunoprata.com
sítio www.todososdiasfossemestesoutros.blogspot.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.