Sobre os MULHERHOMEM não tenho grandes dúvidas. A música portuguesa precisa de projectos assim. A música portuguesa precisa de projectos que se afirmem de forma arrojada e sem complexos de serem quem são, por fazerem o que fazem, como o fazem. E nisto, honra seja feita a todo o colectivo Movimento Alternativo Rock.
Sobre o seu álbum de estreia, em particular, não há como evitar desde logo o ritmo absolutamente frenético de todo o disco. É um soco no estômago, prolongado. Poucas vezes tão poucos pareceram tantos e no caso dos MULHERHOMEM, Manuel Ribeiro (guitarra), Manuel Ferreira (voz) e Manuel Ramos (bateria), é espantoso toda a dinâmica sonora que um trio de guitarra, bateria e voz consegue construir. É brutal. Nem os curtos apontamentos de spoken word apagam da memória a pujança desbragada do rock’n’roll dos MULHERHOMEM. Muito pelo contrário, aviva-lhes a originalidade.
Depois e tão ou mais importante que o resto, em “Novecentos” a mensagem é servida na língua de Camões. Fosse o homem vivo e não se envergonharia certamente pela forma como as palavras se encaixam na lírica solta e directa do trio lisboeta. É importante dizê-lo: as palavras em português fazem aqui toda a diferença. Para melhor; muito melhor.
Composto por 15 temas, gravados e co-produzidos por Sérgio Dinis da TAKEAWAY Records, “Novecentos” é mais uma prova de que nada disto é complicado, basta aplicar-lhe um dose importante de competência e uma outra, quiçá maior, de honestidade. Assente num riffalhada incontrolável e uma bateria em transe, a voz fecha ciclo desta pequena loucura em 15 actos. Uma loucura pintalgada por palavras cuspidas com uma crueza sufocante; uma crueza vibrante.
Bravo! Já tinha dito que a música portuguesa precisava de discos assim?
MULHERHOMEM – “Novecentos“ (MAR, 2011) | ROCK ALTERNATIVO | Ouvir “Novecentos”
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