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Yesterday e “The Waiting”, em directo

Rui DinisRui Dinis

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Foi hoje lançado o sexto álbum de Yesterday (projecto a solo de Pedro Augusto), um disco editado digitalmente e disponibilizado gratuitamente pelo autor. Vai daí, a trompa quis saber um pouco mais sobre este novo disco. Eis as palavras de Pedro Augusto:

“The Waiting” é o teu novo disco; que ‘espera’ é esta?
É uma espera por algo incerto que, talvez só se saiba quando o próprio sentimento de espera termine. De alguma forma, depois de “You Are The Harvest”, em que o sentimento era de destruição e de corte abrupto com algo, só podia vir um momento de pausa, em que nos podemos sentir rodeados pelas ruínas resultantes dessa destruição e dançar em cima delas ou, deixá-las “ganhar” e invadir-nos um sentimento caótico – a espera é feita de esperança, mas também de desespero. É disso que fala o álbum.

Este é já o teu 6º álbum (com 4 discos não editados e “You Are The Harvest” editado pela MiMi Records) e não escondes que és essencialmente um músico de estúdio. Nunca sentes a falta do palco? É para ti suficiente mostrares a tua música desta forma mais distante?
Nunca sinto verdadeiramente falta do palco. Nem sequer é pelo facto do palco ser um ambiente hostil para mim (porque o é); é um sentimento de “sem sentido”; ou de ter que erguer algo do chão, pesado, quando as músicas vêm, precisamente, do ar, das paisagens… É suficiente para mim deixar as pessoas ouvir o meu álbum, no seu espaço pessoal, porque, intimamente, eu acho que todo o conceito de “ao vivo” vive também para alimentar a indústria musical e o nosso sentido de bem-estar, quando vemos algo ou alguém ao vivo, nasce das condições sociais criadas por essa mesma indústria. Parece-me tão mais genuíno quando gostamos apenas de uma música por gostar e encaramos o trabalho artístico como algo já terminado – o que vai muito contra o estado da arte de hoje em dia, em que parece que tem que haver uma interactividade em tudo…

Sem sair do tema ‘estúdio’, o que te cativa mais em todo esse processo?
Nem tudo é bom no estúdio. Às vezes é desesperante quando uma música resulta na nossa mente, mas parece que não conseguimos atingi-la; que não há um som real e tocável que expresse essa música tal como eu a imagino e ouço na minha cabeça. Tem que haver muitas pausas, muitas respirações – eu acho que nunca poderia estar sujeito a um orçamento de estúdio e tempo contado. É bom poder regressar quando o nosso corpo manda. É isso que me cativa… é sentir esse impulso de expressar sons e sentir que estou a conseguir, quando sinto necessidade disso.

Que sensações esperas que as pessoas retirem da audição do teu disco?
Na verdade não posso esperar que retirem nada. No entanto, é bom sermos compreendidos, ou em que haja uma afinidade, naquilo que faço. Acho que cada pessoa incorpora um álbum de maneira diferente – e é isso que é importante e que já nada tem a ver comigo. Para mim, estas músicas nascem de um sentimento extremamente melancólico e, ao mesmo tempo, pacífico. Acho que, naturalmente, talvez sentisse mais afinidade pessoal com alguém que sentisse o álbum da mesma forma.

O vídeo parece ser por estes dias muito importante para ti. É verdade? Há alguma complementaridade importante entre a tua música e o videoclip?
Sim, é muito importante. Para mim, as músicas nascem de paisagens e de sentimentos muito ligados a lugares. Por isso, o vídeo surge como resposta às imagens desses lugares que nascem com a música ou, surgem do jogo. Por exemplo, este álbum nasceu de um conjunto de vídeos que fiz para mim próprio de paisagens, nos quais o plano não mudava… era apenas a passagem do tempo – mesmo antes da palavra “espera” ser tão importante para mim. E há algo dessa imobilidade dos vídeos que acabei por fazer (e farei) para as músicas – mais do que contar uma história, interessa-me essa tensão entre algo que se arrasta silenciosamente e indefinidamente.

Como vão ser os próximos tempos de “Yesterday”? 
Vou fazer pequenas e curtas apresentações ao vivo, porque gostava mesmo que o foco do meu trabalho fosse o álbum. Poderão haver algumas novidades em breve sobre uma edição na qual vou participar. E um novo álbum começa já a nascer…[OUVIR | DOWNLOAD LEGAL]

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.