Abram alas para o homem do cavaquinho…mais do que isso, para o multi-instrumentista, o compositor, o produtor ou apenas músico.
Ontem e hoje tenho espreitado por este “Miradouro”, recordando uma das peças mais emblemáticas de uma das figuras – indubitavelmente – mais importantes da história da música portuguesa: Júlio Pereira.
Com um passado iniciado na área do rock, com passagem por grupos como os Playboys, Petrus Castrus e os Xarhanga (nestes últimos com Carlos Cavalheiro com quem editou em 1975 o álbum “Bota-Fora”), Júlio Pereira é essencialmente reconhecido pelo seu importante papel na investigação e revitalização por meio da sua divulgação, da música tradicional portuguesa e de alguns dos seus instrumentos; os álbuns “Cavaquinho” (1981), “Braguesa” (1982) e “O Meu Bandolim” (1992) são disso um excelente exemplo.
“Miradouro” marca a ascensão em definitivo e o reconhecimento público do trabalho de Júlio Pereira. Assentando numa outra fase do seu movimento criativo, momento importante e iniciado com “Cadoi” (1984) e que visa especialmente a fusão de toda a tradição instrumental experimentada anteriormente com os novos recursos permitidos pela electrónica, “Miradouro” é desde logo um disco diferente. O resultado é um disco vivo, original, exemplo máximo de uma constante redefinição estética por onde passa quase toda a obra de Júlio Pereira (o disco infantil “Faz-de-Conta” editado em 2003 pela EMI é também disso um exemplo). Marcado pela recriação em redor das nossas raízes, na forma como a tradição e a contemporaneidade podem fazer brotar uma nova forma de sentir o passado e encarar o futuro, “Miradouro” vive de uma modernidade absolutamente única. “Trás-os-Montes”, “Lua de Laranja”, Piano de Cavalariça” e o óbvio “Miradouro”, são apenas alguns dos temas que ficaram bem firmados para o posteridade.
Com 35 anos de carreira e colaborações em território nacional com Zeca Afonso, Fausto, Adriano Correia de Oliveira, José Mario Branco e Jorge Palma – só para citar alguns – e no estrangeiro com Pete Seeger e Chieftains, entre outros, Júlio Pereira é desde há muito uma das enormes figuras da folk nacional e europeia.
É bom não nos esquecermos…

Na Rádio Memória” é possível recordar o tema “Miradouro”.


“Miradouro” – Júlio Pereira (Schiu!, Transmédia, 1987; reed. CD Nau, MVM, 1992)

01 Miradouro
02 Trás-os-montes
03 Beladufe
04 Borda d’água
05 Verde Andar
06 Al Gare
07 Lua de Laranja
08 Castelo de Pastor
09 Piano de Cavalariça

Folk-Rock

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.