Com o álbum de estreia ainda bem fresquinho, os rapazes estacionaram a caravana à porta d’a trompa:

1. Numa frase apenas – ou duas – como caracterizam conceptualmente o álbum “Noah’s Ark Of Pain”?
Álbum de Colecção de fantasmas alheios expelidos em formato Rock Folk.

2. “Noah’s Ark Of Pain” é vosso álbum de estreia. Como correram as gravações? Que peso teve a produção de Flak?
As gravações deste álbum foram feitas de forma breve, espontânea… Queríamos que fosse quase um espasmo criativo em que não houvesse grande tempo para ponderar, filtrar ou qualquer outra forma de hesitação. Sabíamos que em termos técnicos representava um verdadeiro desafio conseguir fazer coisas ao primeiro take, mas também só avançámos neste método porque nos achámos capazes. Acho que só assim se consegue chegar ao fim com um trabalho sincero. Ficamos muito contentes com o resultado final, sentimos que era mesmo isto que queríamos para um primeiro trabalho. O som bastante cru acaba por revelar esta opção! O Flak veio em boa altura refinar e limar arestas e ajudar ainda mais a alimentar esta ideia de espontaneidade que procuravamos. Motivou-nos a experimentar arranjos, por exemplo… de repente estávamos a pedir uma serra emprestada à carpintaria da porta ao lado, para usar com o arco do violino e o arranjo acabou por ficar! Tudo isto foi intenso e muito divertido.

3. Este foi um disco feito a pensar no público que vos ouve? Que expectativas têm em relação à sua aceitação?
Ainda não percebemos bem quem é o público que nos ouve, isto é… se existe um estereótipo de público da nossa música ainda não conseguimos perceber qual é. A primeira fase de concertos em 2007 não foi de todo conclusiva relativamente ao público que mais adere à nossa música. Sem perceber se isto é uma vantagem ou desvantagem, acho que não estamos associados a uma geração, classe ou subcultura… ou qualquer coisa do género… E isso acaba por nos agradar. O monocromático, monocórdico e outros tipos de “mono” são aborrecidos e não representam desafio. Venha a heterogeneidade!
Desde o início que decidimos não criar grandes expectativas que não dependam apenas de nós e do nosso processo criativo. Primeiro que tudo está mesmo aquela sequência de acordes que nos agrada, ou o mote para mais uma história que se passou (ou que se poderia ter passado) e a melodia que a descreve

4. Que sensações esperam que as pessoas retirem da audição do novo disco?
O mais gratificante seria que as pessoas sentissem o mesmo prazer a ouvir, que nos tivemos ao escrever e a interpretar. Sendo isso impossível na sua plenitude, o importante é que sintam o quer que seja, mesmo… Acho que é o objectivo de qualquer forma de arte, mais do que o seu sentido estético, é a transmissão de sensações que podem não ser as mesmas do emissor para o receptor. Podemos ser mais exigentes e esperar que este disco proporcione verdadeiros delírios, verdadeiros enredos ou mesmo ajudar a exorcizar demónios, mas isso seria mesmo muito bom… nunca se sabe!

5. Se tivessem que escolher a faixa que melhor encarna o espírito do novo disco, qual escolheriam? Porquê, mais sucintamente?
Temos a sorte de o nosso single principal ter sido a primeira música escrita no contexto do grupo. O tema Guy from the Caravan é a que melhor expressa a ideia de viagem, do drama que a vida pode ser e no fim, da importância de levar as coisas com alguma simplicidade. É uma história ingrata mas nós colocámo-nos na posição do viajante (lol).

6. O que podem esperar as pessoas que vos forem ver ao vivo?
A actuação ao vivo dos The Guys… acaba por ter uma energia diferente e temos sempre margem de manobra para algum improviso… Sentimo-nos muito bem a tocar o nosso repertório e por sermos amigos já de longa data existe uma excelente comunicação. Já tocámos nas condições mais adversas e divertimo-nos bastante e conseguimos passar a nossa mensagem ao público. Acho que uma pessoa que nos for ver ao vivo deve aparecer como se viesse para jantar ou para tomar um aperitivo e ouvir-nos falar da vida (da nossa e da dos outros que nós também somos cuscos).

7. Como vai ser o futuro próximo dos The Guys From The Caravan”?
As músicas do Noah’s Ark of Pain já não são nossas. Foram alimentadas, cresceram e ganharam vida própria. O futuro dos The guys… passa essencialmente por continuar a fazer pequenos depósitos de gasóleo na caravana e continuar à procura de novas histórias e de novas paisagens por aí. O diário de borbo já começa a ficar de novo bem recheado. Qualquer dia ainda gravamos um álbum.

som The Guys From The Caravan

capa de Noah's Ark Of Pain
“Noah’s Ark Of Pain” – The Guys From The Caravan (iPlay, 2008)

tipo Folk-Rock
som www.guysfromthecaravan.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

2 thoughts on “CHAPA 7|”Noah’s Ark Of Pain” – The Guys From The Caravan”
  1. Grande som pessoal! Sem dúvida uma lufada de ar fresco, nunca tinha apanhado uma mistura tão grande e tão harmoniosa de vários géneros musicais. Bravo!

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