Vamos dizê-lo já: ”The Bitterest Flavours” é um belíssimo disco. Depois, perguntam vocês? E porque soam assim tão belíssimos os 67 minutos gastos nas 11 faixas ”The Bitterest Flavours”? Isso vem a seguir.
Sobre o porquê da beleza de ”The Bitterest Flavours”, diria que, acima de tudo, é porque sobre a sua linha condutora de sempre, os Divine Lust foram capazes de em certa medida se reinventar. Sem desalinhar. Seis anos após o tenro álbum de estreia – com um EP pelo meio, os Divine Lust mostram-nos um superior  e diferente ”The Bitterest Flavours”. Sem fugir – muito – de uma linha estética  nascida do cruzamento do doom com o gótico, uma linha bem melancólica, o grupo soube acima de tudo experimentar; recriar. Recriar-se sem fugir das suas principais influências. É esta criatividade que ressalta em especial do segundo álbum de originais dos lisboetas Divine Lust. Não só nem tanto pelo risco em si, mas pela forma  como no fim o conseguiram fazer soar: belissimamente. E não é só o uso e o abuso dos teclados de António Capote, com outros adicionais do baterista João Costa, como os que se ouvem tão bem no início de “Hunting”; mas é também o trabalho de vozes, não só do titular Filipe Gonçalves, como também dos convidados Paula Teixeira e Lisbon Unholy Trinity Gregorian Choir; como é também a guitarra portuguesa de Ricardo Marques como a que se ouve em “Last Will Left”; como é o violino de Tiago Flores; como é  a narração de Mark Harding em “Duskful Of Bliss, Morningful Of Misery”. É esta orientação experimentalista que nos deixa ainda mais alerta em “The Bitterest Flavours”. O exemplo máximo talvez seja mesmo o tema “The Son That Never Was”, onde vozes convidadas, coro gregoriano incluido, violino e guitarra portuguesa convivem em harmonia.
Concluindo, ”The Bitterest Flavours” é o resultado de uma banda em pleno processo de amadurecimento. O cuidado nos arranjos e a produção conjunta de Dikk e a banda, acabam por desvendar uns Divine Lust em alta, um grupo num momento criativo assaz interessante. É um disco de pormenores; pequenos pormenores que enchem o disco num gótico-doom-metal verdadeiramente apaixonante. Com tanto de agreste como de doce, ”The Bitterest Flavours” é mais um passo em frente do metal nacional.

ouvir

capa de The Bitterest Flavours
“The Bitterest Flavours” – Divine Lust (Deadsun Records, 2008)

01 Last Will Left…
02 …A Long Way Down
03 Good By Love
04 Hunting
05 Devilish Deliverance (Aeons Cry Pt. 2)
06 Duskful Of Bliss, Morningful Of Misery
07 Veil Of Golden Leaves
08 Elsewhere But Here
09 The Son That Never was
10 Selling My Soul
11 The White Flash

género: metal
sítio

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.