A trompa inicia hoje um enorme especial com um dos músicos mais talentosos do jazz nacional da actualidade. De 2002 a 2015 vão 14 anos, vão 15 discos que ilustram com brilhantismo a carreira do saxofonista Rodrigo Amado. A trompa convidou e Rodrigo Amado aceitou. Durante 15 dias, Rodrigo Amado vai falar-nos de toda a sua música, de todos os seus discos, um por um. Enfim, vai falar-nos de uma vida cheia de música; boa música.
Lisbon Improvisation Players – “Live_LxMeskla” (Clean Feed, 2002)
Este disco foi o primeiro editado em meu próprio nome e marca um ponto de absoluta viragem na minha vida. Há já algum tempo que tinha percebido (ou aprendido) que era possível vivermos a fazer aquilo que gostamos. Não é fácil, sobretudo a nível financeiro, mas é possível, e o passo mais difícil de dar é tomar a decisão e artirarmo-nos ao desconhecido. Já o tinha feito, alguns anos antes, e passara a trabalhar em áreas ligadas à minha grande paixão, a música. Passei pela Musicoteca, e depois de uma fase particularmente dura em que fui novamente atirado para as áreas da publicidade e design (pouco tempo), acabei por ser seleccionado como director da Megastore da Valentim de Carvalho, no Chiado. Quando o disco foi gravado, em Outubro de 2000, estava ainda imerso nessa enorme aventura que foi a direcção da Megastore, tendo sido aí que aprofundei a relação de amizade com o Pedro Costa, responsável pela secção de jazz na loja e programador do Festival onde a gravação foi feita (Lx Meskla) e onde participaram também nomes como Akosh S., Lee “Scratch” Perry, Cool Hipnoise ou o projecto Frikyiwa do Frederic Galliano. Nessa altura estava um pouco cansado de reunir formações ad-hoc, sem qualquer identidade ou continuidade. Por essa razão decidi criar os Lisbon Improvisation Players como forma de dar uma identidade aos projectos de improvisação reunidos sob a minha liderança. Surpreendentemente, tendo em conta de que se trata de música totalmente improvisada e de que os músicos eram sempre diferentes, sempre que tornei a reunir os LIP a música manteve uma estética idêntica, como se existisse um fio condutor que ligasse todas as formações. Em 2001 o projecto da Megastore terminou e fiquei novamente disponível para aceitar um novo trabalho. Foi nessa altura que o Pedro Costa e o irmão Carlos me convidaram para fazer parte de uma distribuidora de discos – a Trem Azul – e ajudá-los a criar uma editora. Apesar de se tratar de uma verdadeira “aventura”, super arriscada, na qual eu ainda tinha de investir algum dinheiro, aceitei e foi aí que surgiu a Clean Feed, que hoje é unanimemente considerada uma das 5 editoras de jazz mais importantes do mundo.
Rodrigo Amado