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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Wire Quartet em “Wire Quartet”, 2014

Rui DinisRui Dinis

2014 não terminaria sem a edição de mais um disco de  Rodrigo Amado. Foi a estreia do Wire Quarteto com Manuel Mota, Hernâni Faustino e Gabriel Ferrandini:

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Rodrigo Amado Wire Quartet – “Wire Quartet” (Clean Feed Records, 2014)

Este foi, de todos os meus discos, o mais difícil de produzir. Gravado em Janeiro de 2011, levou três anos a ser editado. A decisão de formar o Wire Quartet surgiu pela vontade grande que tinha de trabalhar com o Manuel Mota. Já tinha tocado com ele no passado, mas sentia que o Manuel era um daqueles músicos verdadeiramente especiais, com os quais é um previlégio desenvolver algo. A forma como toca guitarra, além de profundamente pessoal, é desafiadora, provoca as pessoas, no bom sentido, é desarmante e desconcertante. É muito difícil encontrar músicos que dominem de forma tão consistente uma linguagem tão diferente e original. Fizemos um primeiro concerto em 2007, na ZDB, na altura ainda com o Peter Bastiaan na bateria e sob a designação de Rodrigo Amado Quarteto, e senti de imediato que aquela poderia ser uma segunda “working band”, com um conceito musical completamente diferente do Motion Trio. Quando o Gabriel se juntou ao grupo, na sequência natural de estarmos sempre juntos a practicar na sala da Trem Azul e partilharmos inúmeros outros projectos, dei o nome de Wire Quartet ao grupo, numa alusão às cordas da guitarra do Manuel. Em Janeiro de 2011 estivemos dois dias em estúdio e a quantidade de material gravado era bastante extensa. Mas o que realmente dificultou os passos seguintes foi a complexidade da música. Acho que naquela altura não estava verdadeiramente preparado para processar aquele grau de abstracção e liberdade. Andei durante dois anos às voltas com as gravações, em dezenas de sessões de escuta, partilhando opiniões com outros músicos e amigos, e quando tinha finalmente chegado a um alinhamento final, senti que havia ali algo em que não acreditava e suspendi o processo. Apenas bastantes meses mais tarde consegui tornar a ouvir as gravações. Nessa altura fiz a substituição de um tema e, finalmente, o disco começou a soar. Foi curioso que, em relação aos três discos editados neste ano, a crítica dividiu-se. Houve quem escolhesse o Freedom Principle ou o Live in Lisbon como dos melhores do ano, mas houve também quem tenha optado pelo Wire Quartet – foi disco do ano para inúmeros críticos e sites internacionais, inclusive para a revista Jazzman – e quem tenha dito que estava ali o meu melhor trabalho de sempre. Foi esse o caso do Brian Morton (crítico responsável pelo famoso Penguin Guide) que escreveu: “Este é o seu trabalho mais entusiasmante e coerente até à data. Quando a maior parte dos paradigmas de virtude musical envolvem elevação, ascensão e transcendência, Rodrigo Amado leva-nos para o elemento central, para a essência.” Morton refere-se ainda ao estilo do Manuel como sendo uma junção de Derek Bailey, Sonny Sharrock e Arto Lindsay. No início de 2015 fomos novamente para estúdio gravar o segundo àlbum da banda. A sessão foi incrível. Vamos agora ver quanto tempo demora a produzir.

Rodrigo Amado

Artigos anteriores:

2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

2009 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009) Ler

2009 Rodrigo Amado – “Motion Trio” (European Echoes, 2009) Ler

2010 Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver – “Searching for Adam” (Not Two Records) Ler

2012 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “Burning Live at Jazz ao Centro” (JACC Records) Ler

2013 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “The Flame Alphabet” (Not Two Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “Live in Lisbon” (NoBusiness Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “The Freedom Principle” (NoBusiness Records) Ler

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.