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O novo disco dos Kilindu, faixa a faixa

Rui DinisRui Dinis

kilindu

Os Kilindu, banda portuguesa de fado, jazz latino e world music, lançou já o seu álbum de estreia e Pedro Duarte falou-nos um pouco de cada um dos temas:

1. Adamastor: “É um acto de redenção, um mea culpa em que o personagem se compara ao mítico monstro adamastor, carrasco de quem se aproxima para o domesticar. O diálogo entre o saxofone e o violino abre as nuvens das acentuações rítmicas iniciais. A guitarra com influências Bossa Nova e a percussão Afro-Cubana viral transmitem a ideia de se estar numa embarcação rumando algures num destino desconhecido, talvez Luanda, ilha do Sal ou a Bahia, que no final chega a um cais Lisboeta com azulejos azuis e Fado. Este tema foi uma grande surpresa pois resultou de forma soberba em estúdio pela maravilhosa interpretação vocal.”

2. Oxalá estivesses aqui: “A descoberta do mundo aos olhos de alguém enamorado pela primeira vez é o enredo desta fábula de cores vivas. O desenho da guitarra ao jeito da morna das estrofes e os coros numerosos trazem ao tema um gosto de hino de esperança e ao mesmo tempo saudade pois chegou Setembro e com ele, o vazio da perda de alguém querido que nunca mais se vai rever – Oxalá estivesses aqui mais um dia!”

3. Já não te quero mais: “As influências da Europa de Leste e Latinas misturam-se fervilhosamente neste tema em que o personagem faz ode a estar farto de alguém com quem não quer estar mais. Num propositado abismo de silêncio o poeta cai. Morre e deixa de ser ele próprio passando a encarnar um não-herói. A guitarra elétrica de fortes influências latinas, rasga com a paisagem como que a sacudir e ralhar com o interveniente da ficção passada algures ao pé da costa em África onde abruptamente surgem os tribais rebombares Afro-Monzambique da bateria que o assombram como um gigante que o persegue…”

4. O céu chorou: “A antropomorfização do céu enquanto ente que sente e chora. –Por si o céu chorou e em cálidas centelhas se partiu – o contrassenso do quente e frio num acompanhamento também ele ora quente e frio, ora altivo e lírico, ora recatado e aconchegante. Algumas influências árabes berberes a adicionam exotismo ao Sertanejo Brasileiro e um pouco de Jazz nas paisagens criadas ao longo do tema onde a guitarra e o violino dialogam e se complementam com apontamentos de saxofone.”

5. O que o futuro nos traz: “Um Fado disfarçado de Tango e Bossa Nova que nasce de um excerto de texto do falecido e saudoso historiador Prof. José Hermano Saraiva que quando lhe perguntaram qual seria o futuro de Portugal ao que respondeu na sua inigualável sapiência –“Vão sempre existir as noites de luar, a serra de Sintra em flor e o Tejo a correr para o mar! “- Deu-nos o mote para essa composição e letra… bem-haja! Bem-haja Sr. Professor que é o agradecimento dos homens-livres!

6. Rua da Saudade: “É um quási-fado tocado num instrumento não natural ao Fado. Este tema foi composto no Trés Cubano no próprio dia em que foi tocado pela primeira vez. Algumas composições ganham vida própria e pedem coisas, choram até as ter… foi o caso deste tema, da composição à letra feita por Shannen Macleason, tudo ficou a jeito para falar de Lisboa e desta forma tão portuguesa de sentir, num pregão rasgado das severas da cidade. O saxofone com um pé em Cabo Verde, as claves cubanas latinas e o jeito rítmico do Sertanejo dão ao tema um pouco mais de gindungo no xarém… “

7. O sermão do pescador: “Um recado cantado sobre um instrumental ao jeito do ritmo do Samba lento e Bossa Nova. A progressão harmónica é influenciada pela Chanson Française, a que se junta uma guitarra de cordas de aço com linguagem Bossa nas estrofes, Blues nos solos e um violino que vai dando a cor ao acompanhamento”

8. Maria: “ É um fado antigo de António Menano a que também se chama fado alentejano. Demos-lhe a roupagem Kilindu, a-jazzado nas estrofes com um enorme instrumental de guitarra de cordas de nylon que nos leva para uma dimensão de musicalidade única.”

9. Lavava no rio, lavava: “Outra versão de um fado, este de Amália e Fontes Rocha. Para nós este tema é o perfeito exemplo das pontes entre a morna e o fado! A força deste tema está na interpretação sentida da voz de um maravilhoso vocalista.”

10. Fado Bailarico: “Não somos claramente uns Fadistas! Esta versão do original de Alfredo Duarte assenta-nos como uma luva. Juntamos as influências latinas e afro-cubanas numa fusão de estilos que não é fado nem a deixa de ser.”

11. Amor é água que corre: “Uma guitarra de 12 cordas abre o tema que junta influências cubanas e sertanejas no arranjo de um original de Alfredo Duarte (Alfredo Marceneiro). Assim tocado ficou à nossa maneira, mais vivo e gingado mesmo a jeito das ondas que gostamos de surfar.” [OUVIR]

Rui Dinis
Author

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.