No alvor do momento; no alvor do dia; de madrugada, há toda uma nova semântica a crescer com o sol. E não é só uma questão de significado, há toda uma nova fonética a desabrochar, embrulhada numa harmoniosa construção sonora, que se expressa, no fim, numa nova forma de abordar a música portuguesa. Corajosa e sofisticada. É a música de peixe : avião.
Fintando a ideia do mero disco, “Madrugada”, o útimo álbum dos peixe : avião, é a assumpção de uma nova forma de olhar a pop-rock de expressão portuguesa. Como Linda Martini e Aquaparque o fizeram, diferentemente mas no mesmo sentido, e só para citar dois casos, este é um momento em que de alguma forma se pressente o crescimento de uma certa música portuguesa. Não é sempre excepcional nem tão pouco original, mas o que se ouve em “Madrugada”, é um conjunto de melodiosas e luminosas canções, às quais os convidados Bernardo Sassetti e Manuel Azevedo só vieram dar mais brilho. Uma luminosidade nascida de um equilíbrio único entre os dois lados desta estranha nave; a sobriedade encontrada do equilíbrio entre o eléctrico e o electrónico. É este equilíbrio, mais acentuado em “Madrugada”, que associado a toda a conceptualidade do disco, à qual também não é alheia a peculiaridade da voz de Ronaldo Fonseca, que faz deste umas das madrugadas mais cintilantes da moderna música nacional. Uma madrugada colorida por ambientes opostos como o dia e a noite, como a melancolia e uma controlada energia. São os sons de uma nova criatividade; arriscada mas defendida com um bom gosto inesgotável. E sempre tão perto do coração.
No fundo, é apenas madrugada. Muitas outras crescerão ao sabor de peixe : avião. Felizmente. Certamente.
“Madrugada” – peixe : avião (PAD, Sons em Trânsito, 2010)
01 Tímida Penumbra
02 No Jogo da Quimera
03 Um Acordo Qualquer
04 Detalhes de um Plano
05 Mudar de Ideias
06 Murmúrios de um Segredo
07 Fios de Fumo
08 Luta Perdida
09 Prantos de Pétalas
10 Palavras que Não Falam
11 Sentido de Calma
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