Desabafos…
Há muito que perdi a paciência – não a esperança – para alguma da discussão estéril sobre a música portuguesa; que presente?; que futuro?;blá blá; que soluções?;bla blá; quotas; blá blá; não devia, mas perdi. Basicamente, não acredito em milagres e o que está feito, feito está, resta-nos adaptarmo-nos à situação e dela tirarmos proveito – positivamente.
É sabido – até aceite, com naturalidade, assim parece – que a cultura, incluindo a música, vive vergada ao poder opressor do lucro. Não é grande a novidade, bem sei; dá lucro, investe-se em grande, não dá, mete-se na gaveta, indiscriminadamente. Não sei se é bom, se é mau, prefiro chamar-lhe ‘sobrevivência das sociedades modernas’ – na verdade, é mau e acredito que existam soluções bem mais desinteressadas. Por outro lado e infelizmente, duvido que este processo possa ser subvertido ao nível global – sim, porque há pequenos e bons exemplos. O facto é que não sendo já possível o desenvolvimento de uma sociedade típica de serviço público – anjinho, resta-nos a adpatação, a criação de condições mínimas para que no futuro, o produto cultural na sua generalidade, também a música, possam ser lucrativos, à priori, todos. Custa – e muito, ver o lucro tomar a dianteira dos nossos objectivos de vida; já o tinha dito antes, não acredito em milagres, em inversões impossíveis.
Mas afinal, há soluções? Não sei, apenas que …
…enquanto quem governa não assumir frontalmente que o progresso de um povo também se faz pela assunção séria daquilo que é a sua cultura – conhecimento e construção – continuaremos sempre na mesma, assim, vazios de espírito. Só com uma política cultural séria, educativa, que leve crianças ao contacto precoce com a sua cultura, com o teatro, a pintura e claro, a música, tenderemos a aumentar no futuro a abrangência das nossas escolhas culturais. Se já não é possível vergar esta onda consumista, então que se ensine a consumir, que se eduque, que se preparem as gentes para tudo aquilo que lhes é oferecido – e é muito e bom. Outras músicas; isto tudo para chegar também às outras músicas.
O dignóstico está feito – como em muitas outras áreas, agora falta a coragem política para agir, essencialmente, a coragem para crescer humanamente e considerar a educação para a cultura, a educação para arte como elos fundamentais para a nossa formação como homens, como mulheres.
O resto, às vezes, é mesmo cansativo. Desabafos…

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.