Voltemos à vaca fria…num outro contexto e sem moralismos piratas…
No meio de todo este equívoco e com o máximo de seriedade que me é possível expressar, não posso deixar de sentir alguma incomodidade com algumas bojardas que se vão soltando por aí; uma das últimas e recorrente, associa de forma abusada a quebra de vendas das editoras – atenção, não se fala em prejuízos – única e exclusivamente à pirataria em geral, colocando no mesmo saco piratinhas do lar e piratas da feira. Naturalmente, até poderá ser uma das razões – uma e poderá. Admitindo que existem estudos que confirmam tal teoria, parece-me natural e aconselhável que os mesmos possam ser disponibilizados à comunidade. Por outro lado, parece-me hipócrita e demagogo, omitir outros factores tão ou mais determinantes que esse habitualmente referido – se isso acontecer. Rigorosamente é feio, cientificamente é condenável – isto, sempre admitindo que existem os tais estudos – a boa fé das pessoas leva-me a acreditar em tal – anjinho?
Sobre as tais quebras de venda e consequentemente de lucro, pergunto:
– Que peso tem o aumento do custo de vida generalizado numa sociedade em que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres? – é banal mas é verdade!
– Consequentemente, que peso tem o menor poder de compra da população?
– Que peso tem o preço estupidamento excessivo de boa parte dos discos?
– Que peso tem o desaparecimento das discotecas de bairro, obrigando as que restam a praticar preços absurdos?
– Que peso pode ter a escassa oferta existente? – por mim falo, obviamente.
– Que peso pode ter a qualidade duvidosa de algumas edições?
– Que peso pode ter a ideia de ganância empresarial que se vai construindo no exterior, sabendo que os músicos são os que menos ganham neste negócio?
– Que peso pode ter a potencial incompetência de quem gere as editoras?
– Que peso…que peso…que peso?
Há certas afirmações que pela sua gravidade devem ser explicadas, provadas e isoladas de alguma leviandade; no fim, feita alguma reflexão, dei comigo a formular duas novas questões:
– Que lucros teriam as editoras se não houvesse hoje Internet…e por aí fora? Não seriam ainda menores?
– Que lucros terão daqui a alguns anos as editoras que continuarem a tratar com desdém o efectivo recurso para a promoção e comércio que é a Internet? – nessa altura falaremos em prejuízos, certamente…
É só uma questão de rigor…

www.pro-music.org

ACTUALIZADO

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.