O motivo chama-se “The Imaginary Life Of Rosemary And Me” e é a expressão do muito aguardado regresso aos discos de Walter Benjamin. A trompa fez algumas perguntas ao músico e produtor e ele, respondeu:
Imagino que te tenham feito esta questão muitíssima vezes. Aqui vai mais uma: Porquê o nome artístico de Walter Benjamin? Há alguma relação com o homónimo fílosófo alemão?
Tem tudo e nada a ver. Roubei-lhe o nome porque gostei da maneira como soava e porque existia uma história trágica ligada a Lisboa. Mas não houve nenhuma tentativa de fazer um manifesto de carácter intelectual, foi bastante inocente quando aconteceu. Agora só me resta ser processado pela família e esperar que me levem o carro.
“The National Crisis”, o teu anterior álbum, data já de 2008. O homem por detrás de Walter Benjamin dessa altura é diferente do homem de hoje? Em que aspectos?
Na altura era um rapaz, agora tenho barba. Já ando nisto há mais tempo mas continuo a ter a mesma vontade de fazer discos e de tocar ao vivo. Acho que a minha música ficou mais sólida porque me tornei muito mais perfeccionista do que era, também tenho mais experiência. Apesar de tudo espero não ter perdido o lado mais genuíno da descoberta, continuo a sentir-me muito entusiasmado com todo este processo de fazer os discos.
De que forma a tua estadia em Londres te tem enriquecido como músico?
Tenho conhecido uma realidade diferente. Este disco reflecte muito isso, começa com uns sons de natureza que foram gravados no Regent’s Canal, em Londres. Percorri este canal demasiadas vezes enquanto estava a fazer este disco, há uma ligação profunda deste álbum tanto a Lisboa como a Londres. Também os músicos que conheci aqui me inspiraram, as bandas novas, a confusão, a aprendizagem com pessoas de todo o mundo. É uma loucura. Há concertos em todo o lado, tenho visto uma série de bandas diferentes e também se aprende muito com a atitude mais prática dos britânicos. Aqui para tocar ao vivo tenho de levar os instrumentos no autocarro, é sempre em tour nos transportes públicos.
Voltando à comparação com o primeiro álbum, que principais diferenças se podem encontrar no novo “The Imaginary Life of Rosemary And Me”?
A diferença mais óbvia são as canções – são outras. O tipo de som também é completamente diferente, o The National Crisis foi gravado no meu quarto com pedaços perdidos de uma bateria, maioritariamente sozinho e com todo o tipo de tecnologia obsoleta que eu conseguia arranjar. Foi um bocado um disco de sobrevivência, tentei tirar o máximo proveito dos meios que não tinha. Neste usei a banda que costuma tocar comigo ao vivo e dei-me ao luxo de poder convidar mais uns quantos. Soa mais directo, exactamente como estas canções pediam. Neste disco tive a sorte de poder contar com o apoio de gente como o João Paulo Feliciano e do Mário Feliciano que me emprestaram o estúdio da Pataca. E da AnaMary Bilbao que fez a bonita capa e restante artwork, bem como da Vera Marmelo que nos tirou as obrigatórias
fotografias.
A apresentação ao vivo do novo disco ocorreu no passado dia 21 de Abril, no Auditório Padre Carlos Alberto Guimarães, em Alvalade; e depois em Faro, na Associação Arquente. Como correram esses concertos e que tipo de concerto podem esperar as pessoas que te forem ver ao vivo?
Nem eu sei muito bem o que esperar. Gosto de explorar a energia ao vivo, é muito mais descontrolado do que em estúdio. É fascinante poderes estar nestes dois pólos opostos, em disco há os arranjos, os sons que têm de entrar nos sítios certos e o encaixe das coisas tem de estar perfeito. Ao vivo somos imensos músicos, meio descontrolados, que se deixam levar pelas canções. Não vou estar a dizer aos músicos o que fazer, eles são incríveis. É muito mais uma questão de explorar o ambiente das coisas e preparar o terreno, o resto vem
naturalmente. É quase místico.
São muitos os músicos amigos que de alguma forma participam na tua música. Havendo uma componente muito pessoal na tua arte, como é que esta se transforma quando a partilhas em estúdio ou a tocas ao vivo com outros músicos? Há efectivamente alguma transformação? Os amigos que tocam contigo transformam a tua música?
Claro, é por isso que eles lá estão. Quando fiz o The National Crisis estava sempre com medo que alguém pudesse vir estragar o que estava a fazer, o que acabou por ser o maior disparate. Eu precisava era de ter tido alguém a dizer-me tudo o que estava a fazer mal e ter mais colaborações. Este projecto é quase como uma banda, eu tenho as ideias para as canções e depois vamos desenvolvendo os arranjos. Algumas canções acabam por vir mais desenvolvidas do que outras de casa. Aquelas vozes, bateria, baixo e mais coisas que eles puseram… não há preço para aquilo. Não me canso de dizer que sou um tipo cheio de sorte.
O novo disco é uma edição da jovem editora Pataca Discos? Queres falar um pouco sobre esse relação? como começou? Como está a correr?
Começou com o disco da Márcia, que eu produzi com o João Paulo Feliciano. Eu não conhecia nem um nem outro e acabámos por desenvolver uma relação de amizade aos primeiros acordes. Agora somos família. Poderia correr melhor? A Pataca acaba por ser uma grande quantidade de gente com imenso talento e vontade de fazer coisas, com um enorme enfoque genuíno na música e dá-nos a oportunidade de fazer os discos com que sonhamos e os editar. Estou a viver a melhor altura da minha vida.
Tens desenvolvido também um papel importante como produtor – B Fachada, Márcia, Noiserv, You Can’t Win Charlie Brown, etc. O que te atrai nesse papel?
O estar em estúdio, as máquinas e o estar a fazer música. Sempre adorei o lado de trás do vidro, coisas como os arranjos, os sons, a mistura, os microfones, os gravadores de fita, os ecos de fita, etc. E depois, a melhor coisa que posso estar a fazer com os meus amigos é música.
A língua inglesa é a tua principal forma de expressão? Porquê? Vês-te algum dia a cantar em português?
Canto inglês porque me apetece, sempre ouvi música cantada em inglês e esteticamente foi o que fez sentido para estas canções. E agora que agora vivo noutro país e toco com músicos de todo o lado, passou a ser ainda mais importante este lado universal da língua. Mas não ponho nada de lado para o futuro, tenho tocado em muitos discos de música cantada em português e adoro. Quem me dera conseguir escrever canções boas em português. Depois há o lado patriótico da questão que não me interessa nada. Eu gosto de ouvir coisas em português como em inglês, o Tiago Guilul soa bem é em português. “Eu sou o inimigo”.
Com vão ser os próximos tempos de Walter Benjamin?
Vão ser passados à chuva, em Londres. Agora tenho alguns concertos aqui e queria ver se conseguia dar mais uns quantos em Portugal. Estou a trabalhar no meu próximo disco e noutras coisas com outras pessoas. Estou a fazer um EP de colaborações à distância, vai ser interessante. Há de aparecer por aí perdido! Também queria tocar em festivais, há alguém
responsável por aí a ler isto? Palco Z serve.
Walter Benjamin – “The Imaginary Life Of Rosemary And Me” (Pataca Discos, 2012) | POP | Ouvir Walter Benjamin
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