(CONTINUAÇÃO)


> Ilustração: Isabel Llano

3. Como já acontecera em certa medida com “Müller no hotel Hessischer Hof” – até com alguma naturalidade, este “Maldoror” é, musicalmente, um disco/espectáculo de ambientes; ele é exactamente aquilo que quiseram que fosse, ou houve casos onde não chegaram exactamente onde queriam? Não se torna este espectáculo, musicalmente, um pouco limitador?
Adolfo Luxúria Canibal: A música, mais do que mero ambiente, participa na enorme babel do imaginário à solta, criando rupturas, provocando leituras, imprimindo ritmos e reminiscências, e é exactamente aquilo que queríamos – de outro modo não fazia sentido apresentá-la! Aliás, não percebo bem a questão: nada nos impedia de continuarmos a compor até chegarmos onde queríamos caso não considerássemos essa meta já atingida! Quanto à segunda parte da questão, a resposta é igualmente negativa: musicalmente este espectáculo não foi nada limitador, bem pelo contrário, foi um enorme desafio.


> Ilustração: Isabel Llano

4. “Maldoror” parece ser também o resultado do trabalho de uma grande equipa; que peso tiveram nesta produção, nomes como os de António Durães, Pedro Tudela, Cláudia Ribeiro, Nuno Tudela e ou Nuno Couto?
Adolfo Luxúria Canibal: O trabalho dos diversos intervenientes foi o desenvolvimento, nas respectivas áreas, de algumas características do pré-guião do espectáculo que consideraram mais interessantes ou apelativas. A Cláudia Ribeiro, por exemplo, explorou nos figurinos a estética Manga que está hoje omnipresente em qualquer espaço infantil, seja através da banda desenhada, dos filmes ou dos jogos electrónicos. Já o encenador António Durães, sempre com a produção à perna para lhe controlar os custos, fez malabarismos para explorar a ideia de duplicidade, do fora e dentro, que é algo presente no livro e também na imaginação infantil, recorrendo ao vídeo e às suas possibilidades falaciosas e fabuladoras para acentuar essa dupla realidade. O Nuno Tudela tratou do vídeo que, por um lado participa na criação das múltiplas vozes que se digladiam no livro (narrador, personagem, autor, pseudónimo) e forçosamente no espectáculo, funcionando como mais uma voz, por outro lado cumpre o papel de duplicador do real, quer distorcendo-o pela ampliação de pormenores, quer mostrando o invisível porque imaginado ou porque fora do espaço ou do tempo da acção, e, finalmente, concorre para o clima de estranheza que se quer instalado ao interagir, pela sua presença, com as brincadeiras da criança e com as vozes que assume, rompendo o ténue véu que separa as duas realidades, como no entrecruzar de dois espaços-tempo. A intervenção cenográfica do Pedro Tudela foi, sobretudo, no sentido de dar espaço e respiração quer aos figurinos quer ao vídeo, organizando esteticamente a sua presença, e de dimensionar algumas ideias de encenação. O Nuno Couto distribuiu espacialmente o som. Por fim, o Manuel Antunes criou, com o desenho de luz, os ambientes e os destaques necessários ao espectáculo.

(CONTINUA)

Tour Maldoror:
23 Abr (20h) – Culturgest – Lisboa
03 Mai (20h) – Theatro Circo – Braga

som Mão Morta.

Alternativo
sítio mao-morta.org
sítio www.cobradiscos.org

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.