Lançado no passado dia 26 de Setembro, “Cherries That Went To The Police” é a prova do festejado regresso aos discos de Rita Braga. A trompa fez-lhe algumas perguntas:
O que move Rita Braga na música?
É uma forma de expressão artística como outra. Sempre fiz música e acho que hei-de continuar a fazer, para mim sempre foi mais do que um hobby.
Qual a ideia, mais exactamente, de “Cherries That Went To The Police”, o título escolhido para o álbum? Porquê este título?
Foi uma sugestão da pessoa que desenhou a capa, o autor de banda desenhada sérvio Aleksandar Zograf. Eu ainda não tinha título e acabei por aceitar. Talvez ele tenha uma resposta mais concreta…
Na verdade, há algum tempo que se esperava algo de mais composto de Rita Braga, isto, depois de lançar 3 EPs. Porquê agora?
Foi um disco que levou mais tempo a concretizar, com outro tipo de produção mais cuidada. Os EPs foram gravações caseiras feitos em sofwares mais básicos como o garage band e feitos com poucos meios, editados em CD-R. Aqui reuni vários músicos convidados e tive a produção do Bernardo Devlin e investi mais em tudo. Também não tive editora, foi um processo mais lento por diversas razões. Mas, não foi tarde nem cedo e o lançamento tem corrido bem.
O universo musical de Rita Braga é tão amplo que acredito que não seja fácil tomar algumas decisões ou seguir um determinado caminho. Que ideia está subjacente ao caminho – às escolhas – trilhado neste “Cherries That Went To The Police”?
Foi um repertório que fui juntando ao longo de alguns anos, entre o folk de vários países ou temas populares dos anos 20 ou até anteriores, apesar de a maioria das músicas serem norte americanas, e também alguns temas extraídos de filmes como o “River of No Return” ou a música da dupla Lynch e Badalamenti. Era o que já vinha a fazer ao vivo e quis registar neste álbum mas dando novos contornos por haver mais pessoas envolvidas.
O Ukulele é mesmo um fiel amigo? O que lhe diz este nos momentos mais difíceis? E nos outros?
Diz para continuar sempre, siga para bingo. O ukulele é o melhor companheiro de viagem, vou sempre sozinha e enfia-se facilmente num compartimento de comboio ou autocarro ou avião.
Lê-se que o disco foi gravado em estúdios caseiros em Lisboa, Filadélfia, Gent, Los Angeles e Buenos Aires. Como é que isto aconteceu?
Alguns dos músicos fui conhecendo durante tournés na Europa e Estados Unidos e convidei-os para entrarem no disco. Tirando o Chris Carlone que conheci através do myspace mas ficámos amigos, e através dele fui reunindo contactos que me levaram por exemplo a Los Angeles, onde conheci a Yvette Dudoit e o Jef Hogan que gravaram guitarra slide e contrabaixo. O Nik Phelps também já o conhecia, é de São Francico mas hoje em dia mora em Ghent. O Ignatz, músico argentino, conheci quando toquei num festival de BD independente no Forte Prenestino em Roma, o Crack. Por aí fora. Em Lisboa tive os convidados Hernani Faustino e Rui Dâmaso, mas cada um gravou em sua casa e o Bernardo é que juntou as peças.
O disco foi produzido por Bernardo Devlin, uma figura com história no universo da moderna música nacional. Como correu o trabalho de produção?
Tenho a certeza que se não tivesse tido a produção do Bernardo Devlin o álbum seria muito diferente. Para além da ajuda técnica que me deu para gravar e na mistura e edição, há uma forte componente artística no trabalho dele.
Sei que não é uma pergunta fácil de responder, mas se tivesse de escolher a faixa deste disco que melhor encarna o espírito artístico de Rita Braga, que faixa escolheria?
Acho que não há uma só faixa que defina isso, é o conjunto eclético dos vários temas que melhor o define. Tanto a “Rockin’ Back Inside My Heart” em que toquei num orgao farfisa com caixa de ritmos (um formato que pretendo vir a explorar mais), como a “Under The Moon” ou a “Katyusha” e são todas muito diferentes.
Duas razões para ouvir, quiçá comprar, o novo álbum de Rita Braga?
Acho que é um album diferente que tem surgido no panorama nacional e mesmo internacional. Ao mesmo tempo tem qualquer coisa de “easy listening” e tem encontrado muitos públicos diferentes. Recomendo que no mínimo o ouçam no meu site e logo decidem se querem comprar, por fim o produto final também resultou num objecto bonito e contem bónus multimedia (o vídeo “under the moon” e uma faixa escondida que apenas aparece no computador).
Que ambiente podem esperar as pessoas que forem ver a Rita Braga ao vivo?
É difícil eu responder porque não vejo do lado de fora mas acho que há uma componente de entretenimento e é intimista visto na maioria dos casos actuar a solo na voz e ukulele. Já me disseram algumas vezes que havia um tom cinematográfico ou de um filme do David Lynch, o que foi lisongeante mas isso nem sempre se consegue e o ambiente também se faz do tipo de sala e da recepção do público e de muitas coisas misturadas.
Dois dos EPs de Rita Braga estão disponíveis para download legal na Internet. Como olha a Rita Braga para a posição/função da Internet no seio da indústria musical?
É uma excelente forma de divulgação. Para além de ser uma ferramenta de trabalho essencial para mim para marcar concertos fora de Portugal, visto que não tenho agente na Europa ou Estados Unidos, sem internet nunca teria lá chegado ou seria mais difícil. Optei por colocar esses 2 EP’s para download gratuito na minha página de bandcamp para dar a conhecer o que tinha feito anteriormente a este álbum (que se pode ouvir em streaming) e chegar a mais pessoas.
Como vai ser o futuro próximo de Rita Braga?
Agora tenho ainda uns showcases marcados nas Fnacs no norte (Porto, Gaia, Braga e Guimarães no próximo fim de semana dias 27 e 28 de Outubro), e 2 concertos em Lisboa em Novembro – na ZDB dia 11 e no SOU dia 18. Dia 23 parto para mais uma temporada nos Estados Unidos e estou a marcar uma tour que começa em Woodstock, Nova Iorque e Brooklyn e depois sigo para a Califórnia e tenho datas em São Francisco e Los Angeles mas estou também a tentar marcar concertos em cidades a que nunca fui como New Orleans, Nashville, St Louis, Austin…tento sempre ir chegando a sítios novos e há outros a que volto, como Bordéus em França, ou São Francisco ou a Sérvia já são paragens recorrentes.
Ouvir “Cherries that Went to the Police”
Rita Braga – “Cherries that Went to the Police” (Edição de Autor, NAU, 2011)
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