Chama-se “A Balada do Coiote” e é o motivo de mais um Em Directo n’a trompa. São os TV Rural:
O Título
A Balada do Coiote é o segundo disco de originais dos TV Rural. Este nome é retirado de um verso da música “Quando troveja”, que de certa forma foi também a música que deu o mote para o disco. Este título tenta remeter-nos para um personagem solitário e noturno. Alguém que vagueia pela noite e reflete sobre si, sobre o que o rodeia, sobre relações…
O Single
D’A Balada do Coiote foram já retirados dois singles. O primeiro foi o “Correr de olhos fechados”, uma música com muita energia, simples e direta a nível musical, e cuja letra fala de alguém que anda pela cidade de skate. O vídeo é naturalmente uma skatada por Lisboa. Foi um bom primeiro single para mostrar o lado rock do disco. O segundo single foi o “Faz-te um homem, rapaz” que é uma música menos rock. É uma espécie de marcha que achámos que seria mais consensual e poderia chegar a mais gente. O vídeo desta música foi produzido em parceria com o João Costa, um amigo que faz um teatro de marionetas na tradição do teatro D. Roberto. Achámos que esta tradição com séculos de existência seria ótima para contar a nossa “estória”.
A Edição
A edição do primeiro disco dos TV Rural havia sido pela Catadupa!, uma editora caseira que não era mais do que um grupo de amigos que faziam as suas edições de autor. Como estávamos extremamente satisfeitos com o rumo que este segundo disco estava a tomar, resolvemos levá-lo a alguém que conseguisse fazer mais por ele do que nós por nossa conta. A Chifre foi para nós uma escolha óbvia pois é uma editora com um caracter especial pela postura e atitude em relação às bandas. Quando se mostraram interessados no nosso disco atirámo-nos de cabeça. A edição física que eles fazem tem pinta e é uniforme entre todos os discos da editora. São todos em formato digipack e o CD imita um vinil. Estas características tornam o disco num objeto bastante apetecível. A capa foi concebida pelo Eduardo Viana e passa muito bem a ideia do disco.
A Produção
A ideia do disco esteve também sempre presente nas nossas cabeças quando nos dirigimos ao estúdio Golden Pony para fazer as captações. Levámos connosco um amigo de longa data para nos meter na linha (leia-se co-produzir o disco connosco!, o Bernardo Barata, que juntamente com o Pedro Magalhães fizeram um trabalho extraordinário. A matéria-prima que trouxemos do Pony foi entregue ao Tiago de Sousa para misturar que acabou também por masterizar juntamente com o Pedro da Cruz. O resultado final para nós foi de certa forma emocionante pois finalmente ficámos muito satisfeitos com um registo nosso. Todas as maquetes, e até o primeiro disco, ficaram aquém das nossas expectativas a vários níveis. Sentimos que, desta vez, tínhamos em mãos algo que nos orgulhávamos e que queríamos muito dar a conhecer.
A Mensagem
Neste momento é bem mais fácil fazer chegar música em português às pessoas. Na altura em que começámos com os TV Rural fomos a alguns concursos de música e, das bandas concorrentes, eu diria que no máximo 10% cantavam em português. E nós vestíamos essa camisola. Hoje isso já não faz sentido pois quer no mainstream quer no alternativo o português está presente e com muita força. É importante para nós e para a nossa língua que assim seja pois no contexto do rock, e não só, a palavra é uma componente importante da música e ao cantarmos em português as coisas parecem ganhar outra dimensão. Na nossa língua é mais fácil passar uma mensagem às pessoas e pô-las a pensar pois em Portugal pensa-se em português. As letras do disco não são muito complexas mas exigem do ouvinte uma espécie de trabalho pro-ativo para lhe conferir outros sentidos. O “Correr de olhos fechados” poderá ser apenas uma música sobre andar de skate na cidade. Tudo depende de quem a ouve. Para mim tem muito mais a ver com ter outra perspetiva das coisas (“a 10 cm do chão” tudo será ligeiramente diferente), sermos capazes de nos superar, contornar obstáculos, aprender com os erros… A imaginação é a maior força da Natureza e a metáfora é o seu gatilho. O disco está cheio delas. A ideia do personagem notívago que atravessa o disco é de certa forma um pretexto para refletirmos sobre o que nos rodeia e tentar levar as pessoas a fazer o mesmo.
A Sonoridade
O novo disco dos TV Rural é acima de tudo um disco de Rock. Essa é a nossa matriz. A base do disco assenta toda no clássico: bateria, baixo e duas guitarras que foram gravados em simultâneo para tentar captar a energia da banda, algo crucial para nós. Depois temos as vozes e coros, muitos em take direto, que fazem também parte do nosso ADN. Para além desta base decidimos acrescentar algumas coisas para levar as músicas para outros caminhos. Incluímos percussões em todas as músicas, gravadas pelo Manuel Pinheiro, temos um coro feminino composto pela Roca e pela Lília Esteves que atravessa praticamente todo o disco, e ainda participações do João Morais no saxofone, do Sérgio Costa na flauta e da Lília Esteves na harpa celta.
A Novidade
O facto de termos uma ideia a priori do ambiente que queríamos para o disco foi essencial para o produto final. O primeiro disco foi uma espécie de coletânea de canções. Não foi pensado como um todo e inclui gravações de alturas diferentes em sítios diferentes. Foi uma espécie de ponto da situação. Neste segundo disco já não foi assim. Tudo foi pensado desde o princípio com um objetivo bem definido. As canções incluídas tinham a ver umas com as outras, fizemos uma pré-produção bastante rigorosa para não termos surpresas e quando finalmente nos sentimos preparados fechámo-nos no Pony seis dias para o gravar. Depois desta epopeia, que demorou cerca de cinco anos desde que foi pensado até à sua edição, finalmente estávamos prontos e com muita vontade de o mostrar.
A Internet
Hoje em dia, a internet tem um papel importantíssimo na divulgação da música. É verdade que destruiu por completo o mercado das editoras mas por outro lado tornou mais simples a tarefa de fazer chegar a música ao público. Parece que o mundo inteiro está aqui ao pé. Na minha opinião tem muito mais vantagens do que desvantagens tanto para a música como para os músicos. Acho que poucos músicos portugueses ficaram ricos com a venda de discos. Nunca se venderam muitos (entenda-se milhões como lá fora) e a maior parte do lucro ficava para as editoras. A internet obrigou a uma revolução. Nos anos 90 lembro-me de esperar que os discos já lançados lá fora chegassem cá. Nos dias de hoje é possível arranjar os discos antes de saírem lá fora. Acho que este facilitismo ajuda muito a que as pessoas oiçam mais música, mais música diferente, e isso é ótimo. A pirataria não nos faz grande diferença. O número de cópias que esperamos vender não é significativo pois não somos uma banda mainstream. Essa é uma das razões pelas quais o nosso disco pode ser ouvido na íntegra no Bandcamp.
Os Concertos
Claro que esperamos que o ciclo não se encerre na audição do nosso disco. O nosso objectivo é que as pessoas o oiçam, que o disfrutem e depois nos venham ver ao vivo e participem da celebração que são os concertos. Nos concertos as coisas ganham uma outra vida. A experiência da música ao vivo é sempre algo muito intenso e os TV Rural adoram essa energia. Escreveram agora no site Gume uma crítica ao último concerto que dizia: “Depois de ouvir os temas no Musicbox, eles ganharam uma outra dimensão, ou outro entendimento se preferirem. Fazem mais sentido agora que já sei para o que eles existem: para se ouvirem em concerto”.
O Futuro
Para além dos concertos, que esperamos que apareçam apesar das dificuldades que se vivem hoje, estamos já a começar a pensar no próximo disco. Tocar, gravar discos e dar concertos é isto que queremos. A nossa ideia é não parar e esperamos sinceramente não nos cruzarmos com nenhum muro intransponível. A verdade é que já saltámos alguns bem altos e como tal nada nos assusta.
TV Rural – “A Balada do Coiote” (Chifre, 2012) | ROCK | Ouvir TV Rural
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chifre.org