É uma pintura moderna; em boa verdade, já o era em 2009…
Dois anos passados sobre o surpreendente “É Isso Aí” (Aquaboogie, Flur, 2009) e continua a ser uma miragem pensar que um dia a pop nacional vai ser realmente assim; por enquanto. Chega a ser falacioso querer acreditar que a música dos Aquaparque é já parte da pop dos dias de hoje. Se é aceitável dizer que do puzzle sonoro que é a música dos Aquaparque, sobressaem algumas peças pop, algumas vozes, alguma musicalidade, é igualmente aceitável dizer que quando combinadas com outros elementos, continua a ser um produto demasiadamente alternativo para se pensar que amanhã seria mais generalizada a sua compreensão. Não é e isso também é ser pop. Por outro lado, é isso que torna “Pintura Moderna”, tal com o anterior “É Isso Aí”, um registo visionário dentro do actual panorama da música moderna nacional. Genericamente, é como se as partes criassem um todo bem diferente do que estas nos transmitem isoladamente. Acontece nas palavras e nas vocalizações diferenciadas; acontece na musicalidade, ora buscando referências inequívocas aos anos 80, ora centrando-se claramente no amanhã; acontece na electrónica de passada vigorosa. Ressuscitam-se memórias do passado. Mas nem só isto interessa. Interessa ainda aclamar a saudável loucura criativa deste duo, na forma como descomprometidamente vai juntando peças num manto sonoro de resultado quase sempre inesperado. E esta é uma magia que se mantém. A magia do inesperado. A incerteza sobre o que nos vai trazer a faixa seguinte; na batida; nas palavras; nas vocalizações; no corpo final. “Pintura Moderna” é um elogio ao inesperado, resultado desse vício intratável que é buscar constantemente a razão de ser e fazer diferente; de ser criativo. E nisso, “Pintura Moderna” é um disco muito à frente; pelo ritmo maquinal da electrónica; pela melodia; pela palavra e pelo encontro destes quase sempre atordoante; vibrante.
Em resumo, o trabalho de Pedro Magina e André Abel pode bem ser a visão arrojada da música popular portuguesa no futuro. No presente, são tons lusos de uma estética desconcertada e desconcertante; brilhante.
Aquaparque – “Pintura Moderna” (Aquaboogie, 2011)
01 Espelhado no céu
02 Castigo o teu nudismo
03 Para além do bronze
04 Esperar que sim
05 Sábado à tarde
06 Ultra suave
07 Tomar conta de mim
08 Coroa de sabotador
09 Emblema
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