Tinha saudades de ouvir algo diferente e esteticamente provocante. Na verdade, não é tão diferente como se poderia supor, dado o histórico do artista, mas ainda assim, diferente; suficientemente diferente. Foi essa saudade tornada desejo que me levou até “Sic Transit”, o disco que Bernardo Devlin editou em 2012 (NAU).
É certo que a ortodoxia pop nunca fez parte do dicionário de Bernardo Devlin. Não o fazia no tempo de Osso Exótico e não o faz desde “World, Freehold” (1994), o disco de estreia em nome próprio. “Sic Transit” não foge a essa regra, faz algumas concessões, é verdade, especialmente em termos sonoros, mas mantém aquela negra densidade na poesia e na música, tão característica da música de Bernardo Devlin. Ainda assim, é um disco mais disponível à voracidade da massa humana comum.
Produzido por Bernardo Devlin e Joel Conde, “Sic Transit” continua marcado por ambientes de algum onirismo, condimentados por palavras surreais e uma voz que não engana e nos perturba a cada verso. Num ritmo pujante, marcado, pautado por um piano que se repete e repete e vozes que nos confundem, é um groove pouco habitual que sobressai. É o momento em que “Sic Transit” se esforça para deixar a franja marginal por onde normalmente circula a obra de Bernardo Devlin. Não o consegue de todo, obviamente, Bernardo Devlin nunca o permitiria. Até porque há coisas que nunca mudam, e ainda bem.
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