Coty Cream; os novos velhos urbanos de Lisboa – o título está gasto mas continua a fazer sentido – estão de volta. “O Rock da Mouraria” não é só um disco, é desde logo uma ideia, um conceito, uma forma de agir. De outra forma, podia ser o snapshot de uma Lisboa irreverente, incapaz – felizmente – de se deixar acorrentar a estereótipos estéticos. Editado apenas em vinil, este regresso dos Coty Cream, é um regresso arriscado – na forma e na essência. Arriscado porque passaram 10 anos desde uma estreia aclamada; arriscado porque o line-up não sendo muito diferente também o é – Pedro Alçada (guitarra e voz), Al Kali (bateria), Torré (saxofone) e Vasco D’Albergaria (baixo); e por fim, arriscado porque as modas mudam e agora a cena é outra.
À questão da identidade com os primeiros Coty Cream – ou à falta dela, a banda lisboeta responde com a mesma criatividade de há 10 anos atrás; as letras perdem peso – é verdade, mas aquela necessidade de buscar fronteiras, visá-las e ultrapassá-las, mantém-se intacta. É um rock actualizado, experimental, que vê hoje no improviso parte do seu campo de acção. “O Rock da Mouraria” é menos performativo, em contrapartida, é mais livre…e sempre rock!
A importância do conceito. O disco tem 8 faixas; quatro oferecem-se de peito aberto ao formato canção – com três temas novos e uma reinvenção do primeiro álbum; as outras quatro são fruto de uma devoção ao espírito mais libertador e improvisado que move hoje os Coty Cream. São pequenos passos – experimentações – que introduzem e separam os momentos maiores desta aventura – cada músico foi responsável pela construção do seu passo. Excelente.
O renascimento. Não é um disco de continuidade, é sim uma nova vida que cresce na Mouraria, um novo cheiro a liberdade, criativa, mais enérgica e imaginativa, cristalizada pelos pequenos pormenores nos arranjos que pululam em “O Rock da Mouraria; de percussão, das máquinas…
O “Rock da Mouraria” é isto tudo, um registo espontâneo e sincero, marca de uma vivência periclitante entre a canção e o desejo quase incontrolável de reinvenção da sua arte. É mais um exemplo de como respira inquieta esta Lisboa; pelo rock, pelo jazz-rock – com o saxofone a marcar e bem o som da banda, pelos sons mais alternativos ou pelo improviso. Livre e descomprometida, como se ouve em “Lulla”, a reconstrução do “Tema Alulatório” do primeiro álbum, neste, com uma linha de baixo inicial descaradamente surripiada a “Hello, I Love You” dos Doors.
Haja música…

som Ouvir alguns sons de Coty Cream

capa de O Rock da Mouraria
“O Rock da Mouraria” – Coty Cream (Mouraria Records, 2006)

Lado 1
01 Snake – this is a story…minimal
02 Big White Shark Attack
03 Steel Sticks & Skin Sings Like a Castrati
04 Clap Your Hands in The Air and Say Blues…Yeah!

Lado 2
05 Deng, Deng, Deng
06 Fame is a Bluejob
07 After the Sunset
08 Lulla

tipo Rock Alternativo
sítio cotycream.blogspot.com

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.

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