Para um fim-de-semana que se pretende calmo, quase sempre dedicado ao lazer, nada melhor do que traçar um propósito a que chamo de ?flama?, tal o calor que emana: Ovibeja, Beja, Alentejo. Esse evento fantástico demonstrativo de um Alentejo vital em pleno crescimento e afirmação. Bem, mas o mote é a música, como sempre.
E se a noite alentejana estava serena, a dar para o fresco, essa noite tinha ainda um outro móbil, um objectivo composto de início por 6 letras: Sérgio, e que depois de um espaço, mais sete letras recebe: Godinho. Sérgio Godinho esteve ontem em Beja, outra vez.
Depois do já habitual naco de pão alentejano maravilhada pelo amanteigado queijo de Serpa e levemente adocicado pela companhia de um tinto de Pias, eis que o momento musical da noite se aproxima, com o soar das 22h30 e já com a magia daquele brilhozinho nos olhos a vislumbrar-se na assistência.
O espectáculo? É simples, o que dizer de um mago da canção, das emoções, da mensagem, de um mestre da criação de paixões e transmissão de letras, sentimentos. Foi bom, o que também não é novidade, é quase sempre bom, muito bom, ainda que o espaço não tivesse lotado.
E depois há a música, dez em cima de um palco, dez artistas de corpo inteiro que oferecem um espectáculo cheio, cheio de vibração, e depois há Sérgio Godinho, que tudo congrega e ao povo oferece, assim, de braços abertos em ritmo de festa. É aquela empatia que se cria entre quem sabe o que diz e quem sabe o que quer, e ontem, quem presenciou o espectáculo sabia bem o que queria, queria mais, muito mais.
O resto já se sabe, ou imagina-se, é um discorrer de emoções sem fim, umas mais antigas outras mais recentes, mas serão sempre aquelas emoções não raras vezes revestidas por uma modernidade sonora sempre no local certo. Foi bom recordar “O Charlatão”, fruto dessa profícua relação com José Mário Branco e ouvir Sérgio Godinho irónico clamar “isto não tem nada a ver com os dias de hoje” (mais ou menos assim).
Neste lento correr, se foi aproximando o fim, com uma Lisboa que amanhece no Alentejo, como pano de fundo e a fazer recordar outros tempos, sempre actuais de paz, pão, habitação, saúde e educação.
Já lado a lado com o coro das velhas e a cabeça entre as orelhas, desfilaram vários encores e mais seriam se não houvesse sempre um fim, ao fim de mais de 2 horas de Música.
Até porque hoje e sempre, este é o primeiro dia do resto das nossas vidas. Emocionante, como sempre!