24 de Junho, Quinta-Feira e de regresso a Beja fazendo jus à lei do eterno retorno.
Na noite mágica da luz, avivada pela alegria geral de um povo que saiu à rua em emoção e comoção (até em transgressão) viveu-se na Bejalternativa mais uma Quinta das Portugueses, mais uma vez organizada pela sempre activa Antena 3. Com a feira bem composta, o recinto ficou quase sempre aquém em termos de público. Merecia ainda mais.
Durante a amena noite alentejana, assistimos essencialmente à actuação de grandes “performers”, assistimos a bandas bem sustentadas por quem lhes dá voz, principalmente falando de Simão Praça (Plaza), Kaló (Bunnyranch), João Fino (ZEN) e Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta).
Mas vamos ao resumo:

Xeg

A festa abriu com Xeg. Abriu bem, com rimas agressivas que facilmente conseguiram envolver parte do público na sua mensagem. Com uma música assente mais na rima que no beat, pelo menos ontem este não se mostrou ser aquele fio condutor que a rima pede. Xeg deu um bom concerto. A actuação deu essencialmente para aquecer os ânimos (como se fosse necessário) e dar a conhecer o disco “Conhecimento 1978-2004”, editado este ano pela Matarroa.
Ainda que sempre dirigido a um povo muito específico, o Xeg cumpriu.


Plaza

Tinha alguma curiosidade em ver Plaza ao vivo. Confesso que não me animou fortemente, a batida está lá, a energia existe em quantidade suficiente para animar qualquer pista de dança mas a mensagem que passa é demasiado plastificada, pouco carnal. Não, não estou a bater no ceguinho da electrónica, mas ao vivo, ontem, o grupo pouco existiu. Os Plaza sabem-no, estrearam nova formação com mais um guitarrista e um baterista (aqui sim, onde este investe, nota-se alguma vida). Não está em causa o grande desempenho em palco de Simão Praça bem coadjuvado pelo mano, o facto é que quem esteve do lado de cá, pareceu-lhe estar a ouvir o disco.
Falta sangue a correr!


Bunnyranch

Se aos Plaza falta algum sangue, nos Bunnyranch há sangue mais. Nitidamente desconhecidos por terras do Sul, foram para a Trompa a grande sensação da noite e vencedores numa dura disputa com os ZEN e os Mão Morta. Pode-se até perguntar o que têm os Bunnyranch de diferente de outras bandas de rock’n’roll; pergunte-se. Para além de outros pormenores (uns mais pequenos outros maiores), a resposta termina invariavelmente em Kaló, baterista e vocalista dos Bunnyranch e um verdadeiro espectáculo dentro de outro espectáculo. Chegaram, viram e convenceram o povo alentejano. Em meia dúzia de temas (mais coisa menos coisa) despacharam uma actuação cheia de “power” e rock’n’roll onde não faltaram “liar alone”, “hungry” e “bunnyranch”.
Melhor actuação da noite com Kaló ao melhor nível.


ZEN

Depois de ouvir o último disco (poucas vezes ainda, confesso) confirmo a ideia que já tinha anteriormente depois de ver os ZEN no Festival Tejo há algum tempo atrás: os ZEN são muito melhores ao vivo do que em disco. Com um excelente “frontman”, a nova voz dos ZEN, João Fino transporta o grupo para uma demonstração poderosa do melhor rock que se faz por estas bandas. Entre temas dos vários momentos do grupo, o concerto decorreu positivamente com o grupo a conseguir envolver a assistência na sua sonoridade sempre poderosa. Boa onda.
Actuação bem positiva com destaque para a presença de João Fino.


Mão Morta

Já a caminho das 3 da manhã, chega o momento alto da noite.
Dificilmente se poderia ficar convencido com um concerto de Mão Morta com apenas 9 temas (como escolherão o alinhamento?). Não chega é pouco. É óbvio que os Mão Morta cumpriram e com distinção, “não sabem jogar mal” diz-se na gíria futebolística. O resto é frustração, de quem oferece e de quem recebe, por não ter tido a oportunidade de assistir a mais uma hora de concerto. Paciência, é o formato da Quinta.
O resto é música, arte a rodos: com um início mais sereno com “Em Directo (para a televisão)”, o rei pasmado do 5º Gume e “Gnoma”, começamos a acelerar com “Vertigem” do último “Nus”, para acabar em grande com as guitarras em estrondo de “Vamos Fugir”, “Lisboa” e “Cão da Morte”. No fim ainda deu para o encore com o assalto do 2º Gume e “1º Novembro”.
E pronto já está, directo e emotivo mas sem grande exaltação, Adolfo impôs como sempre a sua presença, parda e grande.

ACTUALIZADO

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.