Genericamente, é uma áudio-novela e respetiva banda-sonora. Ou, por outras palavras, a mais recente loucura de David Bruno. E já...
CONCERTOS|Noites Ritual Rock 2005
Rui DinisNão arruinou mas andou perto, com os Bunnyranch e os Wraygunn como principais prejudicados – eles e principalmente a massa do lado de cá obviamente. O facto é que nunca foi muito forte, quase nunca passou de um chuvisco fino, daí os concertos na realidade terem sido pouco ou quase nada abalados por tal. Molhado e pontual. Acontece tão poucas vezes que é necessário realçá-lo bem quando acontece: às 21h30 em ponto, os Gajos Baixos começavam a sua actuação no Palco Ritual. Parabéns. Público? estava em número razoável sim senhor.
Depois e não é novidade, o espaço, o jardim do Palácio de Cristal é magnífico; se não é perfeito anda lá perto. Parabéns. Agora pelo outro lado; se não se discute os 10 € como preço único de entrada no festival (ou 7,5€ se comprado antes), seja para um dia ou para dois – não é caro, efectivamente – já o preço da “bjeca” pesa um pouco, 1,5 € não é um pouco excessivo?
Gajos Baixos[Palco Ritual]
Só de pensar num concerto onde as músicas são reduzidas ao que se consegue tirar de dois baixos, já nos deixaria curiosos, então depois de os ouvir, ficamos estupefactos. Gajos Baixos é um grande exercício de estilo e naturalmente experimental; até creio que para primeira vez, não seria muito fácil resistir a uma hora de Gajos Baixos, mas atendendo que ontem foram apenas 25 minutos, o espectáculo dado pelos dois baixistas aveirenses, Alexandre Mano e Edamir Costa, foi extraordinário, ainda que algo prejudicado pelo som – não deve ser fácil pôr dois baixos eléctricos a tocar daquela forma.
Supernada
Não queria nem deveria obviamente exagerar, mas projecto onde Manuel Cruz mete as mãos é projecto para se ouvir com toda a atenção. Sabendo igualmente que o performer nortenho só se faz acompanhar por músicos de qualidade, facilmente se depreende que o que se viu e ouviu anteontem foi mais um grande espectáculo, anteontem, dos Supernada. Não sendo extraordinário, percebe-se que os Supernada são “o outro” projecto de Manuel Cruz, o alternativo, o mais agreste, socialmente mais implicado e longe do low-profile lírico dos Pluto; nos Supernada, Manuel Cruz explode liricamente, seco e amargo. Esteticamente abrangente, o rock alternativo dos Supernada concentra-se afincadamente na carga da mensagem e da interpretação em conjunto com uma musicalidade igualmente arejada e crua.
Housanbass[Palco Ritual]
Com os Housanbass entrámos em definitivo na rota da dança. Enquanto DJ R Sound toma conta dos pratos colocando as rodelas a girar com mestria, Alexandre Mano acompanha-o com o seu, anteontem já inconfundível, baixo eléctrico. Depois foi um jorrar quase infinito de house e funk bem acompanhado por um sereno tilintar do esqueleto; não tanto como se devia – e merecia, o pessoal não estava para aí virado, a cena era mesmo só para ouvir.
De razoável vibração, a actuação dos Hausanbass valeu pelo papel diferenciador que um baixo a sério e ao vivo pode dar ao som pré-gravado.
Bunnyranch
Naturalmente, Kaló & Cia, nesta atmosfera, não se deixaram abater e tentando tudo por todos os meios arrancaram para mais um grande espectáculo – como já é habitual, com ou sem chuva. Cá, deste lado, evitava-se ao máximo a deserção para uma qualquer zona coberta. O facto é que a esmagadora maioria aguentou-se, em pura vibração. No durante, foi o habitual e enérgico espectáculo do mais puro rock’n’roll made in Coimbra, com um Kaló no seu melhor, como não poderia deixar de ser. Pelo meio, referência para a saudação a Paulo Furtado e para a curiosa evocação de Mão Morta – com Adolfo Luxúria Canibal a deambular pelo recinto.
Alex FX[Palco Ritual]
Na continuidade do espectáculo dos Hausanbass, Alex FX continuou a noite ritual em dedicação à dança, agora numa vertente mais electrónica e experimental. Por detrás dos monitores, o espectáculo foi decorrendo com respeitável energia, sofrendo naturalmente do sintoma já anteriormente referido; o público estava para ouvir, não tanto para dançar. A actuação terminaria com o belíssimo “Sabe-se Lá”, tema incluído na compilação de 2004 “Amália Revisited”.
Wray Gunn
Com o habitual desvairo e em plena ofensiva internacional, os Wraygunn ofereceram-nos o espectáculo que deles se espera: Grande, energia Rock’n’Roll, puro Soul, aquele Rythm,&Blues. Pouco se pode dizer que não tenha já sido dito e repetido sobre os Wraygunn, senão que – e nem isto é novidade -, o espectáculo da banda de Coimbra está cada vez mais profissional, exigindo a todo o custo palcos maiores, não só por cá como por lá. Lá, para lá da fronteira e felizmente, nesse sentido as coisas começam a correr de feição.
Aposta feita, aposta ganha, música de excelência!