É hoje editado o novo álbum dos açorianos Bandarra. O disco chama-se “Bicho do Diabo” (Ed. Autor), tem 14 faixas e é aqui apresentado pelos próprios, faixa a faixa:

Entrada
Primeiro contacto com o “Bicho do Diabo”. As harmonias e melodias servem um imaginário luso que julgamos ser nosso – caricato, sarcástico, berrante, teatral, festivo e multicolor . Os primeiros cheiros das ilhas são também servidos pela mão de um “Abana” com nariz de palhaço. Não há palavras.

A Feira
Concretização da chamada geral a toda a navegação. Cheguem-se a nós e embarquem na travessia arriscada desta imensa poça de água. Ouçam o que vos dizemos com a música. Temos de tudo um pouco e por quase nada, levam-nos daqui para fora (olho aberto, pé leve, sorriso na cara).

Bicho do Diabo
Esta foi a canção que se meteu por dentro de todas as outras – o nome do álbum. Para o bem e para o mal, em cada um de nós, vive um bicho do demoino (à moda do Pico). Mas no caso concreto, quisemos chamar à ribalta esse ser tão pequenino que se acha dono da maior das sombras: eu, tu, nós. O amigo Zeca Medeiros reforçou no timbre sísmico esta mania do diabo.


Para todos os Zés que não se deixam picar pela melga-do-ter-mais. Uma espécie medonha que, feita praga, se espalhou pelo mundo fora já lá vão uma pancadaria de anos. Só precisamos do que nos faz falta. Geralmente, o que nos faz falta, está perto. E depois, claro, podemos sempre ir para fora de pé.

Xula da Caça
De quatro em quatro anos abre a época da caça. Os nossos sacrificados gestores e aspirantes destravam as armas à porta de casa e percorrem as coutadas do país em busca de quantidade. Abatem-se as peças, conseguem-se os votos. Os patos, somos nós.

Foliona
Não há poder que nos valha quando a “foliona” bate à porta. Todos dançam. Para esta celebração da igualdade revisitámos sons dos foliões do espírito santo dos Açores.

Mais ou menos minuto
Se o dia tivesse mais ou menos um minuto? Tudo permaneceria igual? Esta canção cruza os universos rural e urbano para falar dos quotidianos lineares, minutos que se sucedem de coração parado. Talvez se pregarmos o coração nos olhos ele comece a bater. O companheiro Pedro Lucas experimentou connosco neste tema.

Animalejo
Mais uma vez, temos o diabo. A parte de nós que nos nega, que se aborrece e que nos maça. O reverso que também somos e que constantemente engana o hospedeiro.

Segredos de um homenzarrão
O segredo é não aceitarmos panos quentes. É para doer? Que doa! Assim se aprende. Assim se vence.

Não és dos nossos
Dedicámos esta canção à diferença. Bicho esquisito que nos incomoda o viver costumeiro, passivo e acomodado. Entrámos no quintal do contrário para uma pega de caras. Chamámos o Pedro Afonso para nos fazer companhia com a voz.

Canção expiração
Quisemos construir um fado e nada de fado… Inspirámos, transpirámos, procurámos e no fim, restou-nos isto. Uma paródia ao mal da folha em branco e ao nosso, enfim… fado.

Re-vira-volta
Tínhamos que dar outra volta a nós próprios – nas harmonias, nas melodias, nos conteúdos – para alimentar o vício. Imaginámos uma revolução nas ruas que nos habitam, servimo-nos de poucos acordes, convocámos a agitação do sangue e vivemos o concerto matinal das nossas vidas.

Vamos à praia
A escolha para o single resolveu-se neste tema. Bebemos chamarritas açorianas (bailho da alegria que celebra a vida como nenhum outro) desprezando austeridades e concretizámos afirmações perigosas – Ai que desgraça, ser um indivíduo alegre. Oposta à inconsequência e à apatia, a música é festa, e para esta trouxemos um pouco de um Homem (muito, muito) Rico e Megafónico. Sem contenção.

Saída
E assim nos despedimos. Pés assentes na ilha (que levita volta e meia) para uma sonoridade tranquila que promove o tempo vagaroso e o outro, o que se muta ao segundo. Aqui fala-se do sítio que escolhemos para viver (Norte, meio do atlântico) e de aviões, que podem ou não aterrar.

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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.