Chama-se “The Great Migration” e é o álbum de estreia dos lisboetas Joah Ann Lee; aqui, faixa a faixa:
Todo o conceito da Grande Migração assenta numa história baseada em três personagens e desenvolvida em redor da forma como se relacionam entre si, criando uma parábola em microsistema de um universo humano superior a estes…mais do que explicar cada momento ou “capítulo”, daremos antes uma ideia do “sentimento” ou “tema” por detrás de cada faixa:
01. Destination N. York – Partir sem destino, por trilhos nunca antes caminhados, mas apenas para constatar que chegámos ao ponto de partida, a casa. Musicalmente, uma abordagem diferente, na filosofia do “less is more”. Talvez a faixa mais ambiental do disco.
02. Rooftops – Esteticamente, musicalmente falando, talvez seja a faixa mais “representativa” do álbum, na minha opinião. Pensada para concluir o conceito, versa sobre os (des)encontros na vida, como os acasos raramente o são e sobre o sentimento de alcançar algo que nos transcende, enquanto indivíduos.
03. Southern Decadence – Tem como base a ambivalência entre o desejo e a razão, o assumir como necessidade primária a realização espiritual, independentemente do declínio físico, ou da queda do Homem, na sua globalidade. Romper barreiras, padrões morais. Uma favorita, para os JOAH ANN LEE.
04. Harvey – Blues negro, visceral, carnal e extremamente erótico. O nome fala por si, o personagem representa um “Id” sem limites, sem regras. Domínio sobre todas as coisas, de uma forma extremamente animalesca e primária.
05. The Frozen Border – Conceptualmente, aborda o limiar entre o socialmente estabelecido e a manipulação mental. Viver como um fantasma, dentro de uma realidade imposta… até se atravessar a fronteira. Musicalmente, tem um “feeling” retro, meio surf psicadélico muito apreciado pela banda.
06. Skullflower – A mais negra do disco. Os despojos após a conquista nem sempre compensam… o mesmo para “os fins nem sempre justificam os meios”. O arrependimento não chega…
07. 6 AM (smokin` Gun) – O maior amor traduz-se, lê-se “Morte”. O sentimento de possessão, o crime como instrumento de criação artística. Através da infracção, como uma oferenda, um sacrifício necessário para apaziguar o mal interior.
08. Chasing the Dragon – Uma jornada, uma viagem espectral com recurso ao uso de substâncias facilitadoras de um estado alternado de consciência. A prescrição como cura para todos os males, neste Tempo e Era: o “EXCESSO”. Blues de cabaret, à la JOAH ANN LEE.
09. Strangers – O re-encontro com a familiar estranheza numa relação amorosa. Nunca ninguém nos conhecerá absolutamente; o estranho em cada um de nós e o risco de o libertar, num mundo “real”.
10. She Is (Woman) – A mulher (é) fatal. Literalmente. Terrores nocturnos e a “inconsciente” necessidade do homem em exorcizar-se na mulher objecto, desconhecendo que se entrega de peito aberto ao “inimigo”. A profissão mais antiga do mundo?
11. The Great Migration – A viagem que fazemos conjuntamente como raça, como espécie, como Seres; mas dentro de nós próprios, ao longo do período da nossa vida biológica. Somos o que nos levam a acreditar que devemos ser, ou o que nos propomos a ser? Ambas? Nenhuma das anteriores? A faixa mais “agressiva” do disco, um comboio em constante aceleração no trilho, no rumo certo.
12- The Showdown – Uma epifania. O quão certos estamos? O quanto somos donos do nosso próprio destino? Até onde e como seremos lembrados, amados, recordados? Ao realizar o “fim”, dispostos a recomeçar e tentar de novo? Talvez o tema mais pessoal que os JOAH ANN LEE tenham (até hoje) interpretado em conjunto, sem dúvida a mais sentida por todos individualmente e como grupo, um “slow” western, a Oeste.
Joah Ann Lee – “The Great Migration” (Edição de Autor, 2011)
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