Caixa Económica Operária, Lisboa, 28 de Janeiro de 2006 – 2º dia.
“Uma Dia a Caixa Vem Abaixo” continuou bem mas não veio – esteve quase, mas não veio; num segundo dia preenchido por nomes à volta dos quais se tem gerado algum burburinho, a Caixa esteve ontem bem mais composta tendo o público se chegado à frente do palco com outro à vontade. Como é habitual, infelizmente, uma hora depois, a festa lá começou…ontem mais experimentalista, mais sónica do que nunca.

Começo impressionante…CAVEIRA!
O que este trio de Lisboa faz em palco é arrasar com qualquer ideia pré-concebida de rock ou coisa parecida – o que quer que isso seja. Arrasar é pouco – exterminar qualquer ideia ou conceito sobre uma certa forma de fazer música, de tocar, de exprimir, de fazer gemer os instrumentos. Rita Vozone e Pedro Gomes nas guitarras, eléctricas, deslizantes e contorcidas e Joaquim Albergaria na furiosa bateria – abismal, numa linguagem totalmente improvisada, extrema, o trio explode em palco num noise-rock absolutamente impressionante – arrebatador. Arrasador; concerto directo com paragem a meio – só com ida e sem volta…na sala de pânico com CAVEIRA.

Depois, a calmia, com os piques arrebatadores costumeiros…foram os Linda Martini.
Aparentemente com um público já seguidor, os Linda Martini ocuparam ontem o maior espaço da noite, aproveitando inclusive para apresentar algum material novo. Única presença do festival a cantar em português, o quinteto de Queluz não compromeu e brilhou essencialmente na parte dos temas já conhecidos da maqueta de estreia, “Este Mar”, “Lição de Voo nº1” e “Amor Combate” deram o mote. Com as guitarras na calma/fúria habitual e a bateria em muito bom estilo, os Linda Martini deram um bom concerto, apenas quebrado por alguns excessos no afinar das máquinas entre os temas. No salão de festas com Linda Martini…2006 será o ano!

Por fim e num regresso ao mais experimental da coisa sonora…Loosers.
Vindo da urbanidade mais recôndita, o espectáculo de Loosers é uma nova experiência, musical mas também cénica, sonora mas também teatral. Diferente, sempre irrepetível, estranho modo o de Tiago Miranda, Rui Dâmaso e Zé Miguel fazerem de cada concerto uma forma diferente de êxtase comunitário. Nas três sequências ouvidas, há em todas algo de comemorativo, expansivo, verdadeiramente louco e abstracto, renovando-se em crescendo, para lá de tudo o que se possa conhecer, para lá de uma nova forma de tudo fazer, com tudo ou sem nada, qualquer coisa. Com guitarras ou sem elas, Loosers no laboratório.


Efectivamente, se o futuro do rock passar algum dia aqui por perto, ele esteve por estes dias na Caixa Económica Operária. Esteve, esteve…

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.