E se os históricos e aclamados congoleses Konono Nº1 se encontrassem um dia com o luso-angolano Pedro Coquenão, também conhecido entre nós simplesmente por Batida? Perguntei isto há dias e agora tenho aqui parte da resposta. Foi o próprio Pedro Coquenão a dar a resposta.
Como surgiu esta possibilidade de trabalhares com um nome tão importante como os Konono Nº1?
O Marc Hollander, da editora dos Konono Nº1, viu o meu show no Womex e sentiu que nos tinha de juntar. Foi ele o casamenteiro. Pareceu-me natural. Para o sentir, só precisei de conhecer a banda e ouvir da boca e especialmente sentir do coração, que estávamos a falar do mesmo. E, dentro das nossas limitações a comunicar, entendemo-nos bem. : ) Sorrisos e abraços na segunda vez que nos encontrámos, selaram o acordo.
Em termos práticos qual foi o teu papel na concretização deste projecto e como correu esse processo?
Sou muito pouco prático a definir coisas criativas e que te saem de emoções.
Foi-me pedido para produzir o disco. Eu preferi misturar-me com eles. Tive a sorte de eles terem praticamente exigido gravar na minha garagem, assim que entraram nela. Não era esse o plano. Mas foi o melhor que nos podia ter acontecido. A partir dai, foi partilhar espaço, beber chocolate quente, manter o aquecedor no máximo, bater curtas sestas, resolver problemas técnicos, viver uma rotina de garagem.
O meu papel começou por ser o de tentar tirar pressão. Primeiro gravar tudo seguido com o Vincent tal qual como vinha nas cabeças deles e como fizeram nos discos anteriores. Depois trocámos instrumentos, discos, dançámos, trouxe 3 convidados para dialogarmos em dias diferentes e mais tarde partilhámos dois palcos, que desbloquearam o stress acumulado de quase mês e meio fora do Congo em tour. No fim de tudo isto, e já em descompressão, pedi que tentássemos coisas diferentes. É muito disso que ouvem no disco. Há temas em que entrei sem ensaiar. Outros que são apenas jams. Noutros acrescentei elementos que me pareceram ocupar espaços livres. Não havia uma necessidade de ninguém se sobrepor. O que ouvem são semanas de encontro numa garagem. E algum trabalho de casa mais tarde.
Em termos de futuro, o que podemos esperar de Batida, com e sem Konono Nº1?
Eu tenho um disco de remisturas feito. Preciso de tempo para o apresentar. Tem de cantores famosos a artistas que só fizeram um tema. Gostava muito de os ver juntos num disco.
E tenho o meu novo disco na cabeça. Só preciso de me fechar num contentor, dormir e gravar.
Com Konono, parece-me que este disco é muito recente e ainda estamos a celebrá-lo.
Viver o presente a contra corrente. Mas é o que consigo agora. O que virá virá. E o que vem para a semana, é uma residência sozinho com eles, para criar vídeo para o show e vermos como vamos fazer dois shows em França. Mais do que isso já exige muito de mim. A verdade é que muita da minha energia está focada no que se passa em Luanda neste momento. A música vai ter de esperar um pouco. Ou ir apenas acompanhando.