Longa foi a noite de ontem…
É conhecida e discutida por muitos a dificuldade que em Portugal – porventura noutros países também – se tem de começar os concertos a horas – felizmente, muitos e bons exemplos existem já. Talvez para contornar este aborrecido problema – imagino eu – os académicos decidiram não informar as pessoas sobre a hora de início dos concertos, mas fazê-lo antes e apenas para a hora abertura das portas – muito inteligente…mas pouco. Afinal também há atraso na abertura das portas. A hora marcada era as 20h00 tendo estas apenas sido abertas às 21h20, estragando quer a nossa paciência, quer o negócio de quem já tinha a sua barraquinha no interior pronta para o negócio. Até as bilheteiras abriram por volta das 21h00! Mas enfim, pormenores, venha a festa…

Enquanto se aguardava que o quórum para o palco principal fosse estabelecido, no palco secundário foram-se ouvindo algumas – duas – novas bandas para aquecimento geral. Nesta fase, destaque para os post-hardcore The Aster, em fase de preparação do seu novo EP e para um momento de bom entretenimento com os Black Bombain, acústicos com um toque étnico e vencedores do último Live on Stage . Com pouco tempo para se mostrarem e pelo meio das actuações no palco principal – e sem querer ignorar as parcas condições técnicas ao nível do som – tocaram ainda Jack Slue, Fade Out e Blaze.

Finalmente os The Vicious Five entraram em palco e a festa começou. Quim Albergaria – único como sempre – e seus comparsas fizeram o que tinham de fazer – e melhor sabem, dar rock ao pessoal e explicar logo ali, ao vivo, porque são uma das bandas mais estimulantes do rock nacional actual. É verdade que o ambiente estava frio, que a maioria do pessoal não estava ali só para os ver – nem principalmente – no entanto, há neste quinteto lisboeta uma atmosfera verdadeiramente transformadora. Do frio à festa em pouco minutos, ainda que, não tanta como se esperaria. Obviamente, “Up on the Walls” esteve em destaque e dele, viva “Bad Mirror”, “Suicide Club”, “Fellacies and Fellatio”, entre muitos outros.
Depois, Wray Gunn, naquele que terá sido para aí o quarto concerto em menos de uma ano a que este escriba pôde assistir. Naturalmente – como é apanágio das grandes bandas, houve festa, aqui, num gradual aumentar de temperatura; não a suficiente para Raquel Ralha, que se despediria com um enigmático “para a próxima venham mais quentes” (na linha da velha máxima: a culpa é dos outros). No meio, destaque para o melhor “Drunk or Stoned” dos tais quatro concertos, para “Snapshot”, “How Long, How Long?” e “Juice”. No fim, o repetido desfile de Paulo Furtado pelo meio do púbico ao som de “All Night Long”.

Moonspell. Diabólico. É ao vivo que melhor se percebe toda a dimensão artística dos Moonspell, que se percebe em parte o estatuto que a banda ostenta também internacionalmente. Para os menos familiarizados com o ambiente Moonspell – como aqui o próprio – foi ver as faces sideradas frente ao monumental espectáculo que esta banda de metal tem para nos oferecer. Metal. Fernando Ribeiro assume naturalmente o papel de grande frontman que é, enorme, magnânime, monstruoso – interpretações verdadeiramente avassaladoras. Dedicado especialmente à apresentação dos temas do novo álbum “Memorial”, houve espaço ainda para os históricos “Vampiria” e Alma Mater” de “Wolfheart” (1995) e “Opium” e “Fullmoon Madness” de “Irreligious” (1996) que fecharia inclusive a extraordinária demonstração – mesmo com a incrível falha de som no segundo tema, com vários instrumentos a ficarem sem amplificação. Moonspell. Diabólico.
Blasted Mechanism, outra vez; só que desta vez, foi muito, muito melhor. Numa apresentação mais rápida, explosiva, a banda deu tudo para levar ao êxtase a massa que depois das quatro da manhã ainda ali se aguentava estoicamente. O fim foi simplesmente devastador, com “Zapping” e “The Atom Bride” a fechar. Após o regresso ao palco, um trio de temas a acabar com o resto, com “Nazka” e “Karkow” a fecharem as hostilidades, com o último, a promover novo e decisivo momento de histeria colectiva. Retumbante.

Grande, grande demonstração do melhor que a música nacional tem para oferecer ao vivo!

sal2006.academicadelisboa.pt

ACTUALIZADO

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.