Ontem, numa Lisboa chuvosa ali para os lados do Oriente.
O início foi cómico; surreal diria mesmo.
Estando alertado para o facto dos concertos começarem às 19h45 e ao ver tão pouca gente pelo recinto, não resisti e às 19h40, perguntei a um elemento da organização a que horas começaria a grande festa.
– às 21h00 – respondeu ele com toda aquela certeza;
Afinal batia certo, o bilhete também afinava pelas 21h00 e se calhar, a MTV online andou enganada.
Ok, demos meia volta e fomos passear. Curto. Curto foi o passeio pois dois minutos depois os Mesa estavam em cima do palco e não era a ensaiar.
Requestionado o senhor, a culpa parece ter sido da produtora. Surreal.

Será fácil perceber que quando os Mesa subiram ao palco, o recinto estava deserto, quase deserto (nunca viria a ter uma moldura interessante).
Daí que, quase naturalmente, pudemos observar uma apresentação fria, sem emoção, sem vivacidade, passe todo o esforço inglório de Mónica Ferraz. Em volta dos hits do primeiro “Mesa” e principalmente da nova “Vitamina”, nunca se conseguiu criar um verdadeiro ambiente de ligação; pouca ou nenhuma emoção.
Quando o público percebeu que os Mesa estavam realmente lá, através de uma grande interpretação de “Mímica Sísmica”, o concerto terminou. Pois foi.
Não é culpa de ninguém, simplesmente não houve ambiente.

Já com mais algum público pelo recinto, chegou a grande máquina rock’n’roll soul blues de Paulo Furtado e companhia: Wray Gunn.
Num ambiente ainda frio e algo desligado, desta cidade de Lisboa, a máquina dos Wray Gunn fez por debitar o habitual espectáculo de força, competência e energia rock’n’roll. Como sempre, os Wray Gunn deram espectáculo ainda que ontem, não com uma resposta tão rápida e efusiva do público como geralmente é habitual. Como é normal para este escriba. De resto foi percorrer o último e aclamado “Eclesiastes 1.11.” com espaço para o agora brilhantemente reconvertido “Going Down” do anterior “Soul Jam”.
Mais um vez, o escasso povo lisboeta presente só despertou para o que estava à sua frente, com o excelente final ao som de um longuíssimo “All Night Long”, o qual Paulo Furtado aproveitou para dar espectáculo, cantando e passeando-se pelo meio do público. Grande.

Terminada a descarga sonora dos britânicos The Rakes, fomos tomados de assalto pelo cenário sonoro quase indescritível dos Blasted Mechanism.
Foi o primeiro concerto de Blasted Mechanism a que assisti após “Avatara” e efectivamente…a loucura em seu redor é cada vez maior.
Pudemos realmente constatar, no fim, que aquele povo estava todo ali apenas por uma e única razão…pela revolução. O grupo não desiludiu, muito pelo contrário, ofereceu-nos um pequeno grande e extasiante concerto. Com “Are You Ready” e “I Believe” a abrir, passando por “Oh Landou”, “Manipulation”, “Sun Goes Down” e por uma positiva versão de “Blasted Empire”, o concerto terminaria numa tremenda loucura. Efectivamente, o melhor estava guardado para o fim, com um final de concerto verdadeiramente arrasador, com um brilhante “Karkov” (dos melhores que ouvi) e um “The Atom Bride” absolutamente incrível, longo e levado à exaustão. O povo estava em delírio e exausto…
Grande espectáculo; de minutos contados, infelizmente…

No fim, confirmámos, de novo e indubitavelmente, porque poderão ser os Wray Gunn e os Blasted Mechanism os novos pontas-de-lança da música moderna portuguesa nos mercados internacionais (ou são?).
Sensacionais.

By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.