Às 15h00 é dado o sinal de alarme, no Palco 25 de Abril abrem os The Vicious Five, no Auditório 1º de Maio os Mandrágora fazem o mesmo. O maesto, que nunca tivera oportunidade de assistir a Mandrágora ao vivo, seguiu em direcção ao Auditório 1º de Maio. E fez bem. Mas preparem-se, serão nove horas sempre a correr…
Vindo do Porto, o jovem quinteto Mandrágora, autores de um excelente disco de estreia, homónimo, deram um espectáculo folk gracioso e competente como o seu disco. Para iniciar, nada melhor que o tradicional transmotantano “Galandum”. O resto foi correndo, num equilibrado discorrer instrumental, com serenidade, a acompanhar uma digestão ainda mal feita; no fim, a resposta morninha de um público ainda a apalpar o dia – o som pareceu não ajudar muito;
De regresso ao palco central, deu apenas para assisitir ao final de concerto dos The Vicious Five, com Quim Albergaria a rodopiar no ar do seu microfone de fio – já uma imagem de marca, ontem, trajando impecavelmente uma t-shirt vermelha de alças e calçãozinho preto…único.
Depois de uma volta pela feira do disco, com pouca coisa interessante, senão alguns vinis a preços proibitivos – como é habitual, e ainda antes do regresso à tenda do Auditório 1º de Maio, uma nova paragem no Palco 25 de Abril, agora para ouvir um pouco de Kussondulola. Apanhou-se a fase de Price Wadada em palco e deixem-me que vos diga, sentiu-se a vibração de Jah no ar. Em vários concertos da banda de Janelo que assisti nos últimos tempos, ontem, pela primeira vez, o som parecia mágico, finalmente – Prince Wadada, naquele momento, ajudou e muito…adiante.
Os Telectu com Carlos Zíngaro e Chris Cutler foram o motivo do regresso ao Auditório 1º de Maio. Nomes grandes da cena musical experimental e improvisada, nacional e internacional e mesmo não tendo dado para ver muito coisa, apenas duas palavra: excêntrico e delicioso. Se não é novidade a invulgaridade do trabalho de Jorge Lima Barreto e Vitor Rua como Telectu, imagine-se quando aos dois se somam Carlos Zíngaro, violinista de excelência e Chris Butler, baterista de múltiplos experimentalismos. Alucinante; e depois, ver aquelas bolas coloridas a saltitar de dentro do piano de Jorge Lima Barreto a cada tecla batida com mais vigor, bem…outras ondas.
Logo de seguida, um dos grandes momentos do dia. O trio Contra3aixos de Carlos Bica, Carlos Barretto e Zé Eduardo deram um pequeno espectáculo, mas maravilhoso. É absolutamente incrível como o som de três contrabaixos podem encher o espaço de tal maneira, de uma forma tão fantástica – o contrabaixo daqueles músicos, entenda-se. Único, começando com uma espectacular versão de “Paris, Texas” de Ry Cooder, seguindo por temas de Carlos Bica e uma interpretação livre, esta foi uma hora de pura magia – nem a lesão de Carlos Bica a contrariou.
De seguida, um dos melhores momentos do dia de ontem – se não o melhor, A Naifa. A experimentarem momentos de grande empatia com o público, A Naifa deu ontem um espectáculo cheio de vida, intenso e de pura comunhão com a assistência – a encher a tenda. Liderados pela belíssima figura de Mitó, de voz igualmente irrepreensível, A Naifa deu ontem um grande espectáculo – o próprio grupo pareceu surpreendido com o inesperado resultado. Após o sucesso natural do verso “disse-lhe que portugal ainda tinha muitos comunistas“, parte do tema “Señoritas” que fechou a actuação de ontem, o grupo voltaria ao palco sob intensa salva de palmas para interpretar uma fulgurante versão da histórica “Tourada” de Fernando Tordo – grande, grande momento de comunhão.
Momentos depois, já no Café-Concerto de Lisboa, espaço para o jazz-rock instrumental dos lisboetas Zuul. O quinteto formado por André Barbosa – saxofone, Fernando Marques – guitarra, Fernando Samina – teclas, Ricardo Vieira – baixo e Emanuel Flória – bateria, os Zuul deram um espectáculo interessante, vibrante e emotivo, sempre bem comandado não só pelo saxofone de André Barboso mas também pelo excelente trabalho rítmico do baixo e principalmente da bateria de Emanuel Flória; a guitarra e as teclas deram a cor final a um jazz que se quer rock e merece conhecer espaços maiores. Boa vibração.
No palco 25 de Abril, começava outro dos momentos mais aguardados da noite, os Gaiteiros de Lisboa regressavam à Festa. Revigorados pela edição do recente “Sátiro” e na companhia do violinista Manuel Rocha da Brigada Vitor Jara, os Gaiteiros de Lisboa deram uma imagem pura e crua daquilo que é a melhor música portuguesa; música única, global e até mestiça, esta é uma arte que se estabelece bem longe de qualquer estereotipo pop anglo-saxónico. Da prazenteira apresentação, sempre com o sabor a curta, não poderia deixar de destacar o curioso instrumento tubarões, feito de tubagens em PVC e a bela trompa, manuseada com a mestria habitual por José Manuel David – tinha de falar nela. O resto, foi a habitual festa liderada pelo Sr. Carlos Guerreiro. Fantástico.
Já quase a terminar a noite, espaço para ir espreitar os sempre curiosos Fadomorse, a banda de fusão de Hugo Correia. Que fusão…entre o rock e o pop, o tradicional e o hip-hop, com algum espaço para a comédia, as apresentações de Fadomorse vivem da constante surpresa. Musicalmente surpreendentes, de linguagem metafórica – quanto baste – ontem bastante politizados como convém num Avante – excepto alguma confusão nacionalista a determinada altura, o concerto de Fadomorse não deixou a pequena plateia indeferente, tal a energia e a originalidade que brota de todo o seu som e arte, especialmente – e naturalmente – com um dos andamentos da “Suite Nómada” do álbum “Entrudo”, quando “Grândola Vila Morena” surge no horizonte. Foi bom…
No fim, o mesmo boneco de 2005. De Xutos & Pontapés resta apenas dizer que são sempre os grandes vencedores da noite, pelo menos por aquelas bandas. No que me toca, gosto sempre de ouvir temas como “Dantes” ou “Remar, Remar”. Ontem, ouvi-os…
Infelizmente, também vencido pelo cansaço, não deu para visitar os eborenses Modas à Margem do Tempo no palco Arraial, como planeado; paciência, fica para a próxima. Para o ano há mais…que hoje é dia de descanso!