Estou menos azedo; muito à conta da bela bifana voadora devorada enquanto o espectáculo atrasava, claro…só foram 45 minutos, ontem. Ao contrário do que pensava – em sintonia com a publicidade ouvida das “10 horas de música portuguesa“, afinal, cada banda acabou por se ficar pelos 25/30 minutos por actuação – pelo menos ontem. Curtinho, por um lado parece pouco, por outro não chega a chatear…
Primeiros da lista: Cindy Kat. Rápido e fulminante, e ainda que traga sempre aquele sabor acentuado à plástica da batida, gostei da curta apresentação – mesmo não morrendo de amores pelo álbum de estreia; notas muito positivas principalmente para “Saída” (melhor que com Abrunhosa) e para o estranho e quase hardcore “Miúdo”, mesmo sem J.P. Simões. Minutos agradáveis.
Depois, Anjos. Por estranho que pareça, a curiosa multidão não estava ali para os ver – assim pareceu. Fria e algo desenraizada, muito prejudicada pelo som – a vontade indomável de querer fazer barulho – pareceu-me uma actuação sem brilho. De resto, enalteça-se o profissionalismo que os manos Rosado parecem depositar em cada uma da suas actuações.
De seguida: diria que com Toranja, o festival conheceu o momento alto da noite. Como se costuma dizer, a banda de Tiago Bettencourt não deixou passar uma única, fazendo desfilar pelo palco todos os sucessos dos seus dois álbuns. Com um som francamente bem preparado, o quarteto foi irrepreensível na forma como passou a sua música para o público. Muita gente para ver e cantar com Toranja num concerto praticamente só com momentos altos – também foi curto…vencedores da noite com UHF à perna!

Chegam os peso-pasados: Delfins. Na postura mais inesperada da noite, a banda de Miguel Ângelo opta por apresentar cinco dos novos temas a incluir no próximo álbum de originais – para desilusão de algumas das muitas famílias que ali pararam; nem sei se num festival assim faz muito sentido esta opção. Quanto às novidades, a principal é mesmo o som mais eléctrico, mais enérgico das novas músicas, muito pelo papel da segunda guitarra que Miguel Ângelo empenhou em todos os novos temas. Curioso, é capaz de surpreender muita gente. Alguns destes temas já estão no MySpace da banda; gostei especialmente da “Balada do Bloqueio”. Para o fim, guardaram ainda “Um Lugar ao Sol” e “Sou como um Rio”; para o ‘todos juntos’……
Para o fim da noite, nova agitação com UHF. Já deve ter feito mais de 10 anos sobre a última vez que vi UHF ao vivo; terá sido em Bragnaça e sinceramente, a recordação não é das melhores. Ontem fui surpreendido por todo o poder roqueiro que a banda de António Manuel Ribeiro fez questão de provar que ainda possui; em parte, perece-me, por muito do sangue novo que corre por aquelas veias. Foi um concerto curto mas animado – mais longo que os outros, onde houve espaço para o actualmente incontornável “Matas-me com o teu Olhar”, passando por temas que deconheço – mas aos quais a velha guarda respondeu positivamente, passando por um momento acústico e fraternal, acabando na histórica “Rua do Carmo” – sempre com muito power. No fim, espaço para encores com a versão acústica de “Matas-me com o teu Olhar” e claro, para mais uma cavalgada com os “Cavalos de Corrida”. Nunca hei-de perceber a versão do “Menina estás à janela”, nunca; muito menos o sucesso que tem, enfim, opiniões…
Concluindo e eliminados os aspectos organizativos (e não falei na estranha colocação do palco…) foi um bonito festival de família, ontem, sempre cantado em português – no total das duas noites, apenas os EZ Special se expressam noutra língua que não o português.

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By Rui Dinis

Rui Dinis é um pai 'alentejano' nascido em Lisboa no ano de 1970, dedicado intermitentemente desde Janeiro de 2004 à divulgação da música e dos músicos portugueses.